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Várias gerações, muitos dons, uma só mesa

Atualizado: 8 de jul. de 2021


Ao longo da história da humanidade e da Igreja tem acontecido algo que as pessoas consideram normal, mas que está ficando velho demais para continuar acontecendo. É uma coisa chamada briga, confusão, guerra, dissenção, contenda, porfia, partidarismo. As pessoas justificam essas coisas de muitas formas, às vezes dizendo: “O que eu penso é diferente do que você pensa”, “A minha cor é diferente da sua”, “Meu credo é diferente do seu” etc. Justificando o “diferente”, muitos se acostumaram a fazer guerra, a quebrar compromissos, a não reconhecer o poder e o valor de alianças.

Isto tem se manifestado em todos os ambientes: contratos que firmamos e depois cancelamos por situações não honradas; casamentos cancelados (enquanto Deus diz que devem ser para sempre, até que a morte os separe); etc. As pessoas fazem muitas coisas baseadas em compromissos, mas depois desprezam a necessidade dos mesmos.

Saindo desses níveis pessoais e familiares, vemos o mesmo acontecer no meio público: políticos que quebram os compromissos assumidos com sua cidade ou nação; cidadãos que fazem coisas que não deveriam (justamente por ser cidadãos); etc. Isso tem crescido muito, gerando guerras em todos os níveis no mundo. Normalmente, quem pratica a guerra não se sente culpado, mas sim vítima dela: “Eu só estou me defendendo”. No entanto, o pior de tudo isso é quando as guerras entram na Igreja: quando um considera o que tem melhor do que o outro tem, ou quando considera o que tem como suficiente e isto basta, etc. Começam, então, as brigas, dissenções, contendas e facções.

Historicamente, Deus teve de fazer muitos recomeços, porque a Igreja teve muitos conflitos e muitas guerras. Eu estou orando, crendo e profetizando para que isso acabe, pois, para Jesus voltar, a Igreja terá de estar pronta. A obra de Deus na Terra que antecede a volta do Senhor precisa se completar, e esta obra tem muito a ver com o povo Dele. Então se conseguirmos, geração após geração, cumprir o que Deus nos manda, viver em unidade, aliança e compromisso, servir uns aos outros como pessoas, haverá uma continuidade geracional e Deus completará a Sua obra.

Eu creio que antes de Jesus voltar – e para ele voltar – a Igreja vai entender que brigar virou ‘coisa velha’, coisa antiga demais para continuarmos praticando. Por isso, quero lembrar um momento da história que tem muita semelhança com o tempo que está por vir.

Antes de Jesus manifestar seu ministério terreno, Deus levantou João Batista. João foi um personagem muito especial, pois ele viveu entre dois momentos preciosos. Ele era uma conexão entre a Antiga e a Nova Aliança, entre a sombra e a realidade. João ligava o fim de um tempo ao início de outro tempo. Para isso, Deus preparou circunstâncias muito especiais.

João não era filho de um pai qualquer, de uma nação ou linhagem qualquer, mas era filho de Zacarias, um sacerdote. Ele cresceu vendo, ouvindo, sendo ensinado e participando diretamente das histórias dos cordeiros sendo mortos para expiação de pecados. Isso porque, sendo seu pai um sacerdote, esta era uma prática comum em sua família. No entanto, João não veio para oferecer sacrifícios de cordeiros. Seu ministério era imensamente superior ao que ele estava acostumado a experimentar com seu pai, porque ele foi aquele que preparou o caminho do verdadeiro e real Cordeiro de Deus que tiraria o pecado do mundo (Mt 3.1-3).

Pense, então, na importância e necessidade de João não ser um filho rebelde, na importância de Zacarias em preparar seu filho para que ele exercesse o seu chamado. Aliás, nem filho eles tinham, pois não podiam gerar filhos. Mas Deus lhes apareceu pela revelação de um anjo e lhes disse quem seria aquele menino: João, “Jeová é um doador gracioso”. O nome e a vida de João tinham tudo a ver com a doação de Deus, com o produto final da Sua infinita graça: Jesus Cristo (Jo 3.16). Ou seja, a razão da existência de João tinha a ver com este fato; sua identidade estava intimamente relacionada ao chamado de preparar o caminho do Senhor; ele tinha de viver inteiramente em favor do outro. Desta forma, João viveu a plena realidade do que nós também precisamos viver hoje: de preparar o caminho uns dos outros.

Lá estava Zacarias oferecendo incensos, queimando sacrifícios, fazendo aquilo que em sua geração, em seu chamado, era para ele fazer. De repente, chega um anjo e lhe diz: “Vocês terão um filho que irá preparar o caminho para o meu Cordeiro, e todos os sacrifícios que você fez até hoje terão sentido, terão sido reais por causa daquele que Eu vou oferecer.” Vamos pensar um pouco em relação a todos os pais e filhos, àqueles que vieram antes e depois de nós. Os que vieram antes precisam entender que seu chamado, serviço e ministério não têm a ver com algo que eles necessariamente também precisam experimentar; não tem a ver com algo que é exclusivamente para eles, para seu tempo, contexto e momento. Tudo o que Deus manda alguém fazer está relacionado ao seu momento, mas também à preparação para o próximo momento, porque Deus é um Deus transgeracional, que trabalha de geração em geração (“Eu sou o Deus de teus pais, o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó.”, At 7.32). Ele é o Deus da história, o Deus que atravessa o tempo realizando a Sua obra de maneira muito coordenada, muito eficiente.

Então se nós, que viemos antes, entendermos o nosso chamado e realizarmos a obra que Deus nos confiou para fazer, abençoaremos a nossa geração e também as que surgirão posteriormente. Iremos preparar aqueles que vão cumprir seus chamados junto conosco por um tempo e, também, adiante de nós em outro tempo. E, da mesma forma que nós hoje, o que eles farão em seu tempo também será extremamente abençoador. Resumindo, que a minha vida seja para você um trampolim para você saltar e voar!

Recentemente, estávamos em um Encontro de Jovens e ficamos maravilhados em ver irmãos de uma outra geração, com idade para serem nossos filhos, trabalhando, pregando e cuidando uns dos outros e dos mais jovens que eles. Grupos se formavam para orar, estudar, aconselhar e profetizar uns aos outros – e o Espírito de Deus Se movia fazendo com quem ninguém ficasse ‘aprisionado’ pelo desejo de querer controlar os outros. Aquelas imagens de gerações juntas me marcaram muito.

Em certo momento, aqueles jovens nos chamaram (os mais “velhos” da turma) e disseram: “Nós entendemos que estamos aqui porque vocês têm algo de Deus para nós, como também entendemos que Ele deu algo de nós para vocês!” Então não são somente os pais que podem abençoar os filhos, mas esses também podem (e devem) abençoar os pais! Precisamos acabar com essa história, essa cultura de que quem veio antes deve manter o controle, e quem veio depois deve se rebelar. Não! Ninguém deve se preocupar com quem vem antes ou com quem vem depois, mas todos devem se ocupar em repartir o que têm uns com os outros.

Temos em nosso meio, como congregação, muitas gerações e ministérios diferentes. Mas essa não é somente uma característica nossa, como de toda a Igreja do Senhor. Deus age assim. Ele dá um pouco de Si para cada um, pois com esse pouco todos podemos abençoar uns os outros. Nenhum de nós conseguirá viver uma vida plena em Cristo a menos que recebamos o que Deus tem dado aos outros. Essa é a dinâmica do reino de Deus.

Foi assim a experiência de João com Zacarias, e deste com aquele. Tudo o que Zacarias fez passou a ser real a partir do ministério do seu filho. Mas tudo o que João fez não teria sentido se ele não tivesse honrado o ambiente da sua casa, o ministério do seu pai. Passado um tempo, João se encontrou diante daquele que era o verdadeiro Cordeiro de Deus que, de fato e definitivamente, tiraria o pecado do mundo. Mesmo com muitos prováveis conflitos, mesmo sem compreender muitas coisas, ele nunca se rebelou, mas honrou e obedeceu seu pai, dedicou-se ao seu chamado e cumpriu o propósito que Deus havia estabelecido para a sua vida.

Eu acho linda uma experiência que João viveu. Os religiosos mandavam as pessoas lhe fazer perguntas: “Você batiza? Você é o Cristo?”, e ele dizia “Não!” Ele poderia responder: “Mas eu sou ‘o cara’!” Não! Esse não era o seu coração. Ele dizia: “Eu não sou o Cristo!” Seu coração estava explícito em sua fala: “Eu sou a voz que clama no deserto. Eu sou alguém que proclama, que chama, que lembra, que avisa que o Cristo está chegando! A atenção não deve ser dada a mim, mas a ele. Eu sou alguém que fala para atrair a atenção de outros para ele.”

Será que este também não é o nosso chamado? Será que não tem algo de João que serve para todos nós hoje? Será que todos não fomos chamados também para proclamarmos o Senhor, a fim de que todas as pessoas que andem perto de nós olhem para Jesus e anseiem pela sua volta? Sim! Isso faz parte do nosso chamado, do encargo que está sobre a Igreja – prepararmos o caminho do Senhor para ele entrar na vida das pessoas, voltar à esta Terra e cumprir seu plano eterno. Mas para isso, precisamos ter muita clareza de quem nós somos. Ora, não somos “qualquer coisa”. Temos um chamado, temos dons e ministérios, somos partes importantes e necessárias na Igreja do Senhor e, se trabalhamos juntos, edificaremos este Corpo e atrairemos a volta do Senhor.

Portanto, chega de interrupções, chega de entraves, chega de guerras. Vamos nos dar as mãos, vamos juntar forças para que apenas UM nome apareça entre nós e seja exaltado. Que todos aqueles que nos virem se sintam atraídos por Jesus, por aquele que realmente aparece quando nós nos relacionamos. Jesus disse: “…que também eles sejam um em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.” (Jo 17.21). É maravilhoso sermos trampolins para a vida dos outros. O comum é dizer: “Eu quero que você me ajude”, mas ser igreja é dizer: “Eu quero lhe servir. Eu quero que a minha vida o lance para o seu chamado, para o seu ministério.” Em nome de Jesus, deixe isso entrar na sua mente e coração! Deus lhe chamou e lhe deu alguns dons para você levantar e promover a vida de outros.

Portanto, se há alguma exortação em Cristo, se alguma consolação de amor, se alguma comunhão do Espírito, se alguns entranháveis afetos e compaixões, completai o meu gozo, para que tenhais o mesmo modo de pensar, tendo o mesmo amor, o mesmo ânimo, pensando a mesma coisa; nada façais por contenda (partidarismo) ou por vanglória, mas com humildade cada um considere os outros superiores a si mesmo; não olhe cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros. (Fp 2.1-4)

“Nada façais por partidarismo”. Não faça nada para defender o que é seu, pois, se assim o fizer, muito provavelmente irá desprezar o que é o do outro. Eu não posso fazer algo porque “é do meu jeito, é do jeito do meu partido, é da forma como eu penso e sei”. Precisamos tomar muito cuidado com essas coisas. Precisamos, sim, exercer o nosso chamado, mas não com um coração de autodefesa ou em defesa daqueles que pensam como eu, afinal, na Igreja não há partidos. Se tem é porque ela está partida, dividida. E Jesus partiu o seu corpo para que não houvessem partidos na sua Igreja. Vamos defender, sim, a Cristo e a sua verdade e não a algum partido que possa ofender o nosso Pai e os nossos irmãos. Que Jesus cresça entre nós e que ninguém ofenda ou defraude o seu irmão por causa da verdade que acredita. Temos de defender uma Pessoa e não um partido. Defendemos Jesus Cristo, trabalhamos por sua causa, batalhamos para que ele cresça e nós diminuamos. Que Jesus apareça, que ele seja o Rei que governa, que a sua verdade seja proclamada, que o seu jeito de agir seja conhecido, que toda mentira e injustiça sejam anuladas e desfeitas, que toda verdade apareça – a verdade do Reino de Deus!

A Igreja não tem partidos; não temos mais de uma causa; não defendemos ideias com camisas diferentes. Nós temos e defendemos uma causa apenas: que Jesus cresça, que ele volte! Vamos colocar palanques nas ruas e juntos proclamarmos: “Jesus está voltando! Arrependei-vos e credes no evangelho!” Vamos dizer a verdade que liberta e não a mentira que facciona. Tudo que passar disso é interpretação particular, é partidarismo, é algo que nos divide. A verdade junta os que nela creem.

 “Não faça nada por vanglória”. Não faça nada para ter destaque, para ser bem visto, elogiado, valorizado, mas por humildade, reconhecendo quem você é e quem você não é. A verdadeira humildade não é dizer: “Eu não sou ninguém”, mas dizer: “Sem Cristo eu não sou nada.” O humilde é aquele que reconhece quem ele é em Cristo e vive repartindo a sua vida com os outros.

João Batista, por humildade, disse: “Eu não sou o Cristo. Eu sei o que eu não sou!” Você sabe quem é? Você tem coragem de chegar ao seu irmão e dizer: “Querido, me ajude nesta área porque eu sou falho.” Isso é ter clareza de quem é, isso é ter humildade para se abrir ao ministério do outro. Assim, se você não sabe determinados aspectos do ser marido, ser esposa, ser filho, ser pai, ser igreja, abra-se para um irmão e diga: “Eu preciso da sua ajuda nesta área!” Fazendo isso, você perceberá que Deus vai enchê-lo de dons – não em você mesmo, mas em relacionamentos que Ele irá lhe prover.

Eu gosto de gente; gosto da minha casa, gosto da minha esposa e dos meus filhos, gosto de sentarmos à mesa, gosto que mais gente se sente conosco à mesa, gosto de “igrejar” com mais pessoas, gosto dos relacionamentos que Deus nos deu, gosto da riqueza do ministério de Deus entre nós. Isso tudo é o céu para mim. Eu não queria estar em outro lugar, pois foi aqui que Deus nos colocou. Ele juntou pessoas de diferentes realidades, histórias e pecados. Ele nos colocou juntos para Ele mesmo ser honrado nas nossas fraquezas, para aprendermos a nos servirmos mutuamente, para entendermos que precisamos uns dos outros. Glórias a Deus pela Sua inteligência!

“…cada um considere os outros superiores a si mesmo”. É óbvio que no Reino de Deus não existe maior ou menor, melhor ou pior. Jesus é o maior e todos nós somos parte do Corpo. Mas vemos aqui um princípio de atitude: considerar o outro superior a si próprio. Quando eu ajo desta forma, eu chego ‘manso’ diante do irmão, com a ‘cerviz’ dobrada. Ao contrário, quando me considero mais capaz, mais inteligente, chego com arrogância e ar de superioridade. Quando considero o outro superior, falo e ajo com ele com uma atitude correta para receber do que ele tem para mim e para repartir humildemente do que eu tenho com ele.

“…não olhe cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros.” Pessoas que têm em vista somente o que é seu estão o tempo todo preocupadas em não perder o que têm e conquistar o que não têm – mesmo que para isso alguém perca. Elas só pensam nas vantagens que os relacionamentos podem lhe dar, e isso é absolutamente contrário à cruz de Cristo e, por isso, também contrário ao estilo de vida da Igreja.

Nós não nos relacionamos para ver o que podemos ganhar com os outros, mas nos relacionamos para ver como podemos dar, repartir, servir, somar aos outros. Desta forma, nossa linguagem, nossa expectativa, nossa atitude será: “Como eu posso lhe servir, lhe ajudar, contribuir com você?” O irmão pode responder: “Eu preciso de tal coisa”. Então você diz: “Ah, mas se eu lhe der isso, vai implicar em perda para mim!”. Mas é justamente aqui que reside a benção de Deus, pois este é o estilo de vida da Igreja: nós perdemos para o outro ganhar. Esse foi o estilo de vida de Jesus:

…e ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. (2 Co 5.15)

Devemos, sim, viver para Cristo. Essa é uma verdade inquestionável. Mas será que existe alguma coisa que possamos dar a Deus que Ele não tenha ou que Ele mesmo já não nos tenha dado? Será que há algo em mim ou em você que possamos dar a Ele de oferta? Ora, tudo o que temos já é parte Dele, foi Ele quem nos deu. No entanto, há uma maneira prática de fazer isso, de colocar Jesus no centro de nossas vidas:

Por isso daqui por diante a ninguém conhecemos segundo a carne; e, ainda que tenhamos conhecido Cristo segundo a carne, contudo agora já não o conhecemos desse modo. Pelo que, se alguém está em Cristo, nova criatura é; as coisas velhas já passaram; eis que tudo se fez novo. (2 Cor 5.16,17)

A maneira prática de não vivermos para nós mesmos é repartir o que temos e somos com os nossos irmãos; é dar do que recebemos para não sermos ensimesmados; é não reconhecer os irmãos segundo a nossa carne, a nossa mente, a nossa interpretação das ações deles, mas segundo o que Deus nos fala acerca deles. Desta forma, iremos considerá-los maiores e melhores do que nós, muito importantes. A questão não é o que eles são exteriormente, mas o que eles significam em Deus para nós, ao ponto de nos sujeitarmos a eles e sermos por eles ensinados. Então, tomemos cuidado com a maneira como falamos e nos relacionamos com eles, porque devemos honrá-los – e é nessa honra que a graça de Deus flui.

No Velho Testamento, no Tabernáculo e no Templo, havia um lugar especial em que Deus falava. Dentro do Santo dos Santos se encontrava a Arca da Aliança, o lugar onde Deus se manifestava. Guarde essa verdade: Deus se manifesta onde tem aliança, onde tem compromisso. É a aliança que consegue abrigar a presença de Deus, sem que essa presença seja usada contra o próprio Deus. Às vezes, usamos o que o Senhor nos dá para escandalizarmos a Ele – agindo errado, falando errado, interpretando errado, dividindo os irmãos. Inúmeras denominações surgiram porque alguém falou: “Deus me disse isso, e se você não concorda pode ir embora!” Ou seja, usaram coisas que o próprio Deus deu para ferir a Ele! Que entre nós não seja assim! Que nós vivamos em aliança, comprometidos uns com os outros, reconhecendo os outros como Deus os reconhece para que o avivamento venha, a glória Dele desça e nunca se torne uma glória nossa. Esta glória será vista entre nós, mas toda a honra, majestade, louvor, adoração, esplendor e atenção será exclusivamente Dele e para Ele. Aleluias!

De sorte que, quando vos ajuntais num lugar, não é para comer a ceia do Senhor; porque quando comeis, cada um toma antes de outrem a sua própria ceia; e assim um fica com fome e outro se embriaga. (1 Cor 11.20,21)

Qual é o drama que Paulo está tratando nesse texto? A Ceia é a celebração máxima da comunhão da Igreja, de quem nós somos em Cristo. Aqueles irmãos tinham o costume de se reunir e fazer uma grande refeição. Cada um levava algo para comer, mas os pobres, quando não tinham, nada levavam. O problema que estava acontecendo é que alguns retinham para si o que levavam, não permitindo que os demais pegassem. Ou seja, cada um se ocupava em garantir sua parte – um verdadeiro individualismo e contrassenso –, pois estamos justamente falando de um lugar (Igreja) onde isso não pode acontecer. A Igreja deve ser o lugar onde cada um abençoa e serve o outro, onde cada um leva algo para repartir com o outro, com quem não levou nada.

Nós sempre devemos levar aos cultos algo do Senhor para os outros, repartirmos o que temos com eles. Os nossos pais levam, os nossos filhos levam, os nossos irmãos levam – pessoas de todas as gerações, com todos os dons e ministérios disponíveis – e nos sentamos à uma só mesa. Nesta mesa a refeição que mostra Cristo é a refeição preparada por todos; a atitude que mostra Cristo é quando comemos juntos e não isoladamente. Isto tem de se tornar muito prático. O que eu tenho precisa alcançar o meu irmão e o que ele tem precisa me alcançar.

A mesa do Senhor é o lugar onde Jesus está posto. O que eu levo não é meu, mas é Cristo em mim. O que você leva não é seu, mas é Cristo em você. E quando nos juntamos, está posto o pão e o vinho, o corpo e o sangue. Jesus fica completo, inteiro na mesa quando cada um leva a sua parte, não come sozinho e não pega o seu primeiro.

Um exemplo simples: você acorda domingo pela manhã e diz: “Hoje eu vou ao culto buscar a minha benção!” Mas que tal mudar essa mentalidade e dizer: “Senhor, dá-me algo para abençoar meus irmãos hoje.” Essa é a verdadeira mentalidade de Igreja. Ou, às vezes, você se lamenta: “Ninguém me convida para ir à sua casa.” Que tal, ao invés disso dizer: “Vou convidar alguns irmãos para irem à minha casa.” A mesa se completa quando paramos de pensar em nós mesmos e servimos com o que temos na expectativa de que Jesus seja completo entre nós.

Quando João e Zacarias cumpriram ambos os seus ministérios, Jesus apareceu na Terra. João o batizou e lá estava o Cordeiro de Deus, pronto para tirar o pecado do mundo. Quando nós juntos – pais e filhos, irmãos e irmãs, maridos e esposas – trabalharmos para o nosso Rei ele voltará, porque a Noiva estará preparada. Todos juntos trabalhando, cada parte no seu lugar, cada um cumprindo o seu papel, cada um em benefício do outro com o “auxílio de todas as juntas e ligamentos”.

Em nome de Jesus, que haja uma operação do Espírito em nossas mentes e corações para que mudemos a nossa mentalidade, a nossa maneira de pensar e agir e nos tornemos pessoas que trabalhem em função uns dos outros. Que não haja entre nós nenhum tipo de inveja. Que quando virmos o outro se dar bem o aplaudamos. Tomemos como exemplo a Isabel que, vendo a gravidez de Maria (alguém muito mais jovem do que ela) se alegrou, celebrou com ela. Igreja é o lugar onde a estéril celebra aquela que consegue ter filhos; é o lugar onde a que consegue ter filhos ora e abençoa a estéril para que receba da mesma graça. Igreja é o lugar onde o profeta prepara o caminho para o pastor e o pastor cumpre a visão do profeta. É o lugar onde todos os ministérios trabalham em conjunto para que a Igreja veja Jesus, seja completa e prepare o caminho e o ambiente para sua volta.

Tomemos uma decisão hoje de vivermos para alguém. É verdade que vivemos para Cristo, mas ele é o Cabeça do Corpo. Portanto, viver para ele é viver dedicado também aos irmãos. Assim, nossa maior celebração não será quando conseguirmos algo, mas quando o nosso irmão conseguir. É assim que mudaremos a cultura, a mentalidade, o ambiente da Igreja. Amém!

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