No ano que vem farei 50 anos de ministério, mas apesar de tanto tempo hoje estou tremendo mais que das outras vezes em que ministrei. Talvez por causa do assunto que vamos conversar – a política. Estamos hoje aqui por três motivos:
1º – Para adorar a Deus. Se não houvesse mais nenhum outro motivo estaríamos aqui da mesma forma, para adorar ao Senhor.
2º – Para sermos edificados na comunhão dos santos; cada um recebe do outro que está ao seu lado.
3º – Para sermos instruídos. A Palavra de Deus é proveitosa e útil para ensinar ao homem e à mulher de Deus, para que estes sejam perfeitamente habilitados, instruídos, edificados, corrigidos e perfeitos em toda boa obra.
Sem maiores pretensões, eu gostaria de trazer algumas instruções aos irmãos a respeito desse momento que estamos vivendo. Outro momento parecido com este foi há alguns anos. Estávamos (179 pastores) reunidos em Porto Alegre para um encontro de oração. Em um dos dias, os irmãos que conduziam o encontro nos fizeram um desafio de jejuar no dia seguinte para Deus nos revelar quais eram os espíritos que estavam agindo por trás dos dois candidatos no segundo turno. Oramos e jejuamos. O grupo foi dividido em pequenos grupos e Deus nos revelou: por trás de um dos candidatos estava o rei da Síria, e por trás do outro estava Mamom (o deus do dinheiro). Devíamos, então, escolher em quem votar.
Hoje dou graças a Deus, pois nunca vi o nosso Brasil, principalmente a igreja, tão politizada. Só para ter uma ideia: quinze dias antes do 1º Turno dessas eleições de 2018, havia mais ou menos 35% de pessoas que votariam em branco ou nulo; no dia anterior à votação havia 5%. Nos dias anteriores, 16% não sabiam em quem votar; no dia anterior, menos de 5%. Quer dizer: o nosso povo, o brasileiro, e principalmente a igreja, está politizada. Isso é bom ou ruim? Eu acho bom e vou explicar por quê.
O que significa política e político? “Político” vem da palavra grega “polis”, que significa “cidade”. Política é a ciência que estuda o comportamento das pessoas nas cidades, que fala das regras de como viver como cidadãos. Todos nós somos e devemos ser políticos, ter comportamentos coerentes com a cidadania. Alguns dizem que não são políticos, mas essa já é uma posição política. Você sabia que a indecisão é uma decisão? “Eu decido não decidir”. Ora, então você decidiu. Assim, de alguma forma você é político.
Porém, o que não é previsto por Deus é a política partidária, quando você adota um lado e despreza o outro. Não estou falando do campo das ideias, porque cada um tem a sua ideia a respeito das coisas. Mas a minha ideia não pode polarizar, ou seja, eu não posso, por causa das minhas ideias, ir contra o irmão ou contra as pessoas. Antes, as ideias têm de cooperar umas com as outras. Nós somos políticos, mas não políticos partidários.
Eu digo, em tom de brincadeira, que “partido” não é uma coisa boa porque é partido; se fosse bom seria “inteiro”. Mas você pode ter ideias diferentes do outro e isso não é um problema. O que não pode é combater pessoas. Podemos sentar e dialogar, mas não perseguir, não ser adversários, não polarizar, não sermos uns contra os outros, não postar na internet coisas que não temos certeza ou coisas ofensivas. Não podemos fazer essas coisas, pois isso é uma política partidária.
No Brasil aconteceram alguns movimentos políticos religiosos. Um dos primeiros foi a Teologia da Libertação. Ela veio de um movimento da Igreja Católica e tomou toda a América Latina. Depois desse movimento veio um mais moderno, a Missão Integral da Igreja, que é o lado evangélico da Teologia da Libertação. Esses são movimentos políticos com intuito de trazer uma transformação social, porém, a qualquer preço.
Anos atrás, talvez em 82 ou 83, eu estava numa reunião de pastores em Itaici (bairro do município de Indaiatuba), onde havia também outro grupo. Como o refeitório era comum, os dois grupos começaram a conversar. O outro grupo era da Comunidade Eclesial de Base, que é o protótipo dos partidos de esquerda que estão aí hoje. Eles nos perguntaram o que estávamos fazendo e explicamos que estávamos ali num movimento de oração e busca da Palavra. Perguntamos a eles o que estavam fazendo ali e disseram que estavam discutindo sobre a vida política do Brasil. Naquela noite estavam discutindo se pegariam ou não em armas para derrubar o governo. Quando ouvimos aquilo convocamos todos os pastores, entramos no nosso lugar, dobramos nossos joelhos em terra e oramos a Deus para que o intento deles não prosperasse. Naquela noite a energia do edifício acabou e, por isso, não houve a votação que esperavam. Não fosse aquilo, teríamos ali um movimento com muito derramamento de sangue. Contei isso baseado na fé na soberania de Deus, que todo poder é dele e que ele reina. Não sei qual será o seu voto no 2º Turno este ano, mas se o seu coração está temeroso de que o “outro” lado ganhe e traga uma grande comoção ao Brasil, quero lembrar-lhe que não importa o lado em que você está, mas importa que você entenda que o Senhor é soberano sobre todas as coisas.
Anos atrás, antes das eleições de 2014, eu estava num voo para a Europa e sentou-se ao meu lado um rapaz com um biótipo alemão (louro e muito branco). Íamos viajar juntos por onze horas e pensei: “Tenho de pregar o evangelho para esse camarada.” Pensava em como fazer, porque não sei alemão e nem tenho um bom inglês. Falei para Deus que queria pregar para aquele rapaz e, então, o vi abrir o jornal “O Estado de São Paulo”, o que me fez deduzir que entendia português. Ele abriu na página política. Para puxar assunto, comentei: “A página política está parecendo página policial, não é?” Ele falou: “É, a coisa está feia.” Contou-me que morava em Portugal, mas viera passear numa cidade do sul de Minas. Antes, ele era marqueteiro de um partido político. Quando veio fazer essa visita, naquele momento antes da eleição, recebeu um convite para ser marqueteiro de um determinado partido. Ao receber o convite veio junto uma maleta de dinheiro para ele. Isso o deixou escandalizado (ele não era cristão). Ficou tão escandalizado que estava voltando para Portugal com a intenção de não voltar mais ao Brasil; estava injuriado e sofrendo angustiado. Falei para ele: “Realmente a política no Brasil está muito complicada!” Ele disse que não tinha mais jeito e eu lhe disse que tinha jeito sim. Ele me perguntou: “Como tem jeito? Você acha que as coisas vão mudar?” Eu disse: “Não! É o regime que está errado.” Ele quis saber e eu expliquei: “Esse regime presidencialista que estamos vivendo está errado.” Ele quis saber sobre o parlamentarismo e eu disse que também é errado. Ele perguntou qual seria a solução e eu disse: “A monarquia.” Ele perguntou se eu estava doido e, então, eu respondi: “Não, só a monarquia resolve o problema do Brasil. Virá para o nosso Brasil um Rei que governará e colocará todas as coisas em ordem, e este rei é o Senhor Jesus.” A partir daí, falei para ele sobre essa monarquia durante boa parte da noite. Não a monarquia parlamentarista, na qual muitos aconselham o rei. A monarquia que eu creio é a absolutista, aquela que só UM manda e ninguém dá palpite. Só ELE manda! Você crê nisso? Mas você sabe que ELE já está reinando?
A Bíblia mostra que tanto a Igreja quanto Jesus e João Batista tinham posições políticas e ensinavam seus ouvintes a terem reações políticas:
E uma vez soltos, procuraram os irmãos e lhes contaram quantas coisas lhes haviam dito os principais sacerdotes e anciãos. Ouvindo isto, unânimes [uma só alma, um só ânimo], levantaram a voz a Deus e disseram: Tu, Soberano Senhor [a oração foi baseada no fato de que Deus é soberano], que fizeste o céu, a terra, o mar e tudo o que neles há; que disseste por intermédio do Espírito Santo, por boca de Davi, nosso pai, teu servo: Por que se enfureceram os gentios, e os povos imaginaram coisas vãs? [Salmo 2] Levantaram-se os reis da terra, e as autoridades ajuntaram-se à uma contra o Senhor e contra o seu Ungido; porque verdadeiramente se ajuntaram nesta cidade contra o teu santo Servo Jesus, ao qual ungiste, Herodes e Pôncio Pilatos, com gentios e gente de Israel, para fazerem tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram; agora, Senhor, olha para as suas ameaças e concede aos teus servos que anunciem com toda a intrepidez a tua palavra, enquanto estendes a mão para fazer curas, sinais e prodígios por intermédio do nome do teu santo Servo Jesus. Tendo eles orado, tremeu o lugar onde estavam reunidos; todos ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus. (At 4.23-31)
“tudo o que a tua mão e o teu propósito predeterminaram” – Isso fala da soberania e ação de Deus. Nenhum de nós foi preso por perseguição religiosa; não viveu uma situação de opressão estrangeira; não viveu na situação em que a igreja primitiva estava vivendo, num país ocupado por Roma, sofrendo sob o domínio de um rei estrangeiro. Nós ainda reclamamos do trânsito, da chuva, do calor, mas aquele povo tinha razão de reclamar por muito mais coisas. Mas o que eles proclamavam? A soberania de Deus! Amados, não compete a nós reclamar. Compete a nós orar, mas orar em cima da soberania de Deus. Não sei quem vai ganhar as eleições, mas sei QUEM já ganhou. DEUS ganhou porque já havia ganhado lá atrás.
Há uma ideia por aí de que Deus está “brigando com o diabo todos os dias para ver se o vence”. E a coisa está perigosa, porque “Satanás está crescendo e encurralando Deus num canto”. Mas a minha Bíblia diz que Satanás foi derrotado. É verdade que ele feriu o calcanhar de Jesus Cristo, que somos nós, mas é verdade também que Cristo pisou em sua cabeça e nós (a igreja) vamos esmagar a sua cabeça. Você está numa guerra já ganha, pois Deus determinou que assim fosse.
“ficaram cheios do Espírito Santo e, com intrepidez, anunciavam a palavra de Deus” – Isso é uma posição política, um comportamento. Diante da perseguição, diante dos acontecimentos e circunstâncias, nós só temos uma atitude a tomar: orar e pregar; orar e trazer o Reino de Deus.
Como é que Jesus e os apóstolos viam a questão dos impostos e das autoridades?
“Tratai todos [inclusive do outro partido] com honra, amai os irmãos, temei a Deus, honrai o rei”. (1 Pe 2.17). Isso é política; é posição política.
“Todo homem esteja sujeito às autoridades superiores; porque não há autoridade que não proceda de Deus; e as autoridades que existem foram por ele instituídas. (Rm 13.1). Às vezes, recebo e-mails ou mensagens que são uma desonra. Não nos é permitido desonrar, porque a autoridade vigente será julgada pelo Senhor.
Quando éramos ainda CCM (Comunidade Cristã Missionária), tínhamos em Jundiaí uma creche grande num lugar muito bom. Mas ouve pressão por parte de algumas famílias para tomar aquele lugar. O juiz, muito famoso, me chamou ao seu gabinete e disse: “Então, pastor, o senhor sabe que tem de entregar isso, porque estou sob uma grande pressão; além disso, podem surgir acusações sobre vocês que trabalham com crianças.” Falei para ele: “Como dizem vocês: é melhor perder a causa do que ter uma boa demanda. Quero dizer para o senhor, doutor, que eu como pastor e o senhor como juiz, vamos, os dois, chegar diante de Deus, porque ocupamos posições muito graves na Terra. O senhor vai apresentar diante de Deus tudo o que fez e eu também.” Ele arregalou os olhos e perguntou onde isso estava escrito. Então, mostrei-lhe o livro de Romanos.
Quero dizer que todo aquele que ocupa uma posição de autoridade terá um julgamento especial. Haverá um tribunal junto conosco (pastores), porque ocupamos uma posição que representa Deus. Isso é muito sério! Por isso, você não precisa condenar nem julgar, como muitos estão fazendo. É Deus, é a Palavra, que fará isso! Não quero dizer que você deve perder sua capacidade de discernir o que é certo ou errado, mas que não deve condenar quem errou. Condenar é errado.
Por aquele tempo, ouviu o tetrarca Herodes a fama de Jesus e disse aos que o serviam: Este é João Batista; ele ressuscitou dos mortos, e, por isso, nele operam forças miraculosas. Porque Herodes, havendo prendido e atado a João, o metera no cárcere, por causa de Herodias, mulher de Filipe, seu irmão; pois João lhe dizia: Não te é lícito possuí-la. (Mt 14.1-4)
“Não te é lícito possuí-la.” – Compete a nós, cristãos, denunciar. Sim, podemos e devemos denunciar. Não sei em qual Deputado Estadual e Federal você votou. Fato é que na semana seguinte nós já nos esquecemos em quem votamos. Porém, é importante que você lhe escreva e julgue o que está fazendo – ele é seu representante – e você não vai querer seu representante fazendo alguma coisa errada.
Eu estava em Brasília um tempo atrás, conversando com o presbítero Horácio, que trabalha no TCU. Ele é o homem que fiscaliza as contas do governo e sabe muito mais que nós. Brinquei com ele e disse: “Horácio quanta gente ruim vocês têm aqui nesta cidade.” Ele disse: “Jamê, o problema é que vocês é que os mandam para cá.” É verdade, nós estamos mandando pessoas para lá, para a Assembleia Legislativa. Você vai fiscalizar?
Vou fazer-lhe um pedido bem político: Ore para passar no Congresso o Voto Distrital. Nesse modelo você vota em pessoas que estão ao lado da sua casa e, por isso, saberá com facilidade quando ele troca de casa, de carro, de mulher. Você pode fiscalizar porque esse é o seu (o nosso) trabalho. Denunciar é certo, mas condenar é errado. Nós precisamos ter a cultura da denúncia. Não denúncia vazia, oca, mas com sentido, verdadeira.
Diz a Palavra que Noé (2 Pe 2.5) era pregador da justiça. Será que no ambiente onde estamos hoje somos pregadores da justiça? A Palavra não afirma quanto tempo Noé demorou construindo a arca, provavelmente entre 100 e 120 anos, mas durante esse tempo o barulho do martelo e do serrote anunciavam a destruição do mundo. Noé foi um pregador da justiça.
A Palavra também fala de Ló, que andava indignado com a situação de Sodoma. Nós ainda nos indignamos com a situação da sociedade? Ainda nos revoltamos contra o pecado? O que estamos fazendo? Nós, que combatemos a imoralidade, ainda assistimos determinados programas que ensinam a imoralidade? Precisamos pedir a Deus que restaure em nós a capacidade de nos indignar, de achar ruim o que é ruim.
E quanto a João Batista, qual era a consciência cívica dele?
Então, as multidões o interrogavam, dizendo: Que havemos, pois, de fazer? Respondeu-lhes: Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem; e quem tiver comida, faça o mesmo. Foram também os publicanos para serem batizados e perguntaram-lhe: Mestre o que havemos de fazer? Não cobreis mais do que o estipulado. Também os soldados lhe perguntaram: E nós, que faremos? E ele lhes disse: A ninguém maltrateis, não deis denúncia falsa e contentai-vos com o vosso soldo. (Lc 3.10-14)
“Quem tiver duas túnicas, reparta com quem não tem” – Que atitude é esta? Atitude política social. Você está preocupado com a justiça social? Dê uma olhada no seu guarda-roupas e veja o quanto você pode fazer de justiça social. Não posso falar do governo se não pratico justiça social com as roupas que não uso. Há uma regrinha que algumas pessoas adotam: se eu não uso uma determinada roupa por seis meses é porque não preciso dela.
“Quem tiver comida, faça o mesmo” – Acostume-se, quando for ao mercado, a comprar sempre um pouquinho a mais para dar para quem pede na rua. As pessoas que passam em minha casa sabem que dinheiro não tem, mas comida sim. Há uma família que cuida de carros em frente à Igreja Católica; conheço aqueles meninos desde que eram pequenos (hoje são grandes e barbados) e eles sabem que em minha casa sempre tem comida.
Sobre os publicanos – eram cobradores de impostos; tiravam dinheiro de Israel para dar para Roma. Por isso, eram considerados traidores.
Sobre os soldados – o soldo de um salário de soldado era baixo. A palavra “salário” vem de sal e o pagamento, muitas vezes, era em sal. Essa era uma posição política, como tinha de ser o comportamento no meio da cidadania.
Quando Jesus era interrogado a respeito do seu reino, ele dizia: “O meu reino não vem com visível aparência”. Ou seja, o reino de Deus está num nível superior do que as coisas que nós estamos vendo por aí. Precisamos elevar o nosso nível e viver no nível do reino de Deus; não entrar nas pelejas e disputas terrenas, mas ter uma visão do reino de Deus.
O que é Justiça Social Aplicada?
Para entender sobre isso, vamos ler um texto bíblico que fala do jejum que agrada a Deus.
Porventura, não é este o jejum que escolhi: que soltes as ligaduras da impiedade, desfaças as ataduras da servidão, deixes livres os oprimidos e despedaces todo jugo? (Is 58.6)
“soltes as ligaduras da impiedade”– Provavelmente há pessoas ao seu lado que estão presas ao pecado. O jejum que agrada a Deus é trabalhar para que elas sejam soltas.
“desfaças as ataduras da servidão”– Pessoas presas precisam ser libertas, e o Senhor Deus disse que isso é o que ele quer de nós.
“deixes livres os oprimidos”
“despedaces todo jugo”
Nós recebemos de Deus o ministério da libertação, a graça de libertar as pessoas. Jejum significa renunciar alguma coisa em seu favor e trabalhar em favor dos outros. O nome disso é justiça social, é transformação social.
Porventura, não é também que repartas o teu pão com o faminto, e recolhas em casa os pobres desabrigados, e, se vires o nu, o cubras, e não te escondas do teu semelhante? (Is 58.7)
“que repartas o teu pão com o faminto”– Você sabia que cuidar dos pobres é sinal da presença do reino de Deus, sinal de que Jesus está presente? Quando João Batista manda recado a Cristo perguntando se era ele mesmo ou se devia esperar outro, o que Jesus respondeu? “Os cegos veem, os coxos andam, os surdos ouvem e aos pobres é anunciado o reino dos céus”. Cuidar dos pobres é sinal da presença de Deus na vida da Igreja. Isso é justiça social! Isso é atitude política que agrada ao coração de Deus.
“recolhas em casa os pobres desabrigados”– Às vezes, cobramos do governo para que faça grandes asilos, mas não estamos dispostos a recolher pessoas em nossas casas. Muitos se justificam dizendo que não sabem de onde a pessoa vem e que isso é perigoso. Mas perigoso mesmo é não fazer a vontade de Deus. Se chegar uma pessoa em minha casa e me matar, eu estou salvo; é melhor para mim. Mas se eu não cuidar dos pobres é pior para mim, porque vou encontrá-lo depois. Portanto, recolha o desabrigado.
“se vires o nu, o cubras e não te escondas do teu semelhante”– Ou seja, se você sabe que o seu semelhante está passando necessidade, não se afaste dele.
Se tirares do meio de ti o jugo, o dedo que ameaça, o falar injurioso [boatos maldosos]; se abrires a tua alma ao faminto e fartares a alma aflita, então, a tua luz nascerá nas trevas, e a tua escuridão será como o meio-dia. (Is 58.9b,10)
Quero chamar a sua atenção para os versículos anteriores a este:
Então, romperá a tua luz como a alva, a tua cura brotará sem detença, a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do SENHOR será a tua retaguarda; então clamarás, e o SENHOR te responderá; gritarás por socorro, e ele dirá: Eis-me aqui. (Is 58.8,9a)
Não existe na face da Terra nenhuma entidade que tenha o poder que a Igreja tem para produzir uma transformação social. Não existe nenhum partido político, nenhuma ação do governo que tenha o poder para transformar a sociedade como nós temos. O problema é que a nossa mentalidade diz que é o governo que tem de fazer um trabalho em massa para transformar a sociedade.
Amados, transformação da sociedade começa com transformação de coração. Se o coração não transformar, a sociedade não muda. Temos testemunhado essa verdade em nosso meio. A pessoa chega à igreja bêbada, drogada, inútil, um traste. Mas ao ouvir o evangelho ela é transformada – não bebe mais e gasta seu dinheiro para suprir de pão a sua família; chega à sua casa abraçando carinhosamente os filhos e esposa; se está desempregada, os irmãos providenciam-lhe trabalho; se não tem casa oramos e, ao invés de pagar aluguel, o vemos comprar uma casa própria; em seguida, compra um carro e assim por diante. O nome disso é transformação social.
Repito! Não há nenhuma força na face da Terra que tem maior capacidade de transformação social do que a Igreja de Jesus Cristo. Nós precisamos crer nisso; parar de exigir dos políticos profissionais e começar a mudar o nosso entorno.
Sobre o aborto – Dias atrás, fomos à praça num movimento contra o aborto. Sim, é preciso denunciar essa política que quer implantar o aborto no Brasil. Vamos dizer a eles: “Aqui não!” Os irmãos na Argentina foram às praças e o aborto não foi introduzido no país. As emissoras de televisão os entrevistaram perguntando quem eram e eles responderam: “Nós somos da Comunidade Cristã de Buenos Aires”.
O aborto é efeito, não causa. Qual é o problema? A mentalidade de que o sexo é livre e qualquer um pode praticá-lo quando quiser – e a televisão ensina que deve ser o mais precoce possível. Inclusive, há uma campanha oficial (não sou contra nem a favor) de vacina (HPV) para jovens. Significa o quê? “Pode, mas se previna.” Alguém disse que Deus inventou o sexo seguro e pôs o nome de “casamento”. Esse é o único sexo seguro que existe. Nós precisamos ensinar aos meninos e às meninas que seu corpo não é deles, mas do Senhor. Mas isso só vem com conversão, assim, compete a nós trabalhar nesta causa. Qual causa? A falta de conhecimento de Deus. Não podemos cobrar políticas públicas do governo se não temos uma política pública que é aplicada, como a pregação do evangelho.
A descriminalização das drogas é errada e nós temos que nos manifestar, talvez, escrevendo para os deputados para dizer-lhes que não queremos isso no Brasil. Mas que tal pregarmos para os drogados na rua até que digam: “Não sinto mais necessidade disso”? Isso é trabalhar na causa. Um dos nossos problemas é que trabalhamos no efeito. Isso não adianta, porque passa toda uma geração, mas vem outra. Por isso precisamos trabalhar na causa.
Sobre crianças abandonadas – Uma estatística de tempos atrás dizia que no Brasil existem mais de três milhões de crianças abandonadas. Criança abandonada é produto de famílias abandonadas – mães e pais abandonados. Será que nós estamos dispostos a adotar crianças abandonadas? É fácil falar do governo, mas eu aprendi que governo é uma entidade sem coração; quem tem coração é a Igreja. Estamos dispostos a adotar? Estamos dispostos a pelo menos orar por isso? Quando comecei a falar sobre adoção percebi os mitos e fantasmas que têm na igreja, no povo. Um deles diz: “Não vou adotar porque não sei de que espírito essa criança vem, como era a família anterior”. Eu te pergunto: Você era filho de quem? Quem era seu pai antes de se tornar um cristão? Satanás, o pai da mentira. De que espírito nós éramos?
Adoção é o centro da salvação. Moisés foi adotado, Jesus foi adotado e nós somos adotados. Precisamos abrir o nosso coração para a adoção. “Ah, mas eu já tenho dois filhos, é difícil criar filhos nos dias de hoje”. Minha mãe teve treze filhos. Onde come um comem dois; onde comem dois comem três. Você sabe quem é o pai dos órfãos? Deus. Ele disse que quer fazer o solitário habitar em família. Qual família, se não a nossa? Qual família, se não a do servo e da serva de Deus? Nós vamos esperar o governo construir creches e orfanatos bonitos? Não! Nós temos de resolver esse problema, pois ele é nosso, da Igreja, e não do governo. O governo tem a sua parte, mas está em nossas mãos resolver os problemas sociais.
Sobre mortes no trânsito – Você tem ideia de quantas pessoas morrem no trânsito por ano no Brasil? Quarenta e três mil. Essa é a estatística referente a pessoas que morrem na hora do acidente, excluindo, portanto, as que morrem nos hospitais pelo mesmo motivo. Você tem ideia de quantas pessoas ficam lesionadas ou aleijadas por causa de acidentes de trânsito? Trezentas mil. O que nós, como igreja, estamos fazendo? Estamos orando pelo Iraque, pela Síria, onde têm muita gente morrendo. Mas o que devemos fazer em relação aos problemas do nosso trânsito? No mínimo fazer um cursinho de direção defensiva. Isso é política.
O que é direção defensiva? É prever os acontecimentos; aprender a prestar atenção quando tem gente na faixa de pedestre; aprender que o sinal amarelo significa “pare” e não “acelere”; aprender a dar seta, não quando já está virando, mas antes disso. O código de trânsito fala que a seta é para avisar com antecedência a sua intenção para o carro que vem atrás. Isso é política de transformação social. Sonho com o dia em que iremos à faixa de pedestres para ensinar as pessoas a atravessarem as ruas e os motoristas a pararem enquanto elas atravessam. Isso é algo espiritual? Sim. Menos pessoas vão morrer, menos pessoas serão atropeladas.
O reino de Deus não será implantado por um movimento político de marcha. Jesus poderia ter vindo já com trinta anos, evitando toda aquela complicação para Maria e José; pairado a uns cem metros acima de Jerusalém; ter feito um sinal terrível no céu com enxofre – e todos se converteriam. Mas ele não fez isso, porque o reino de Deus é conquistado coração por coração. Ele não é implantado por uma política de marcha, mas é implantado quando pregamos a Palavra de Deus a cada pessoa. Nós cantamos o Pai Nosso e repetimos muito a frase: “Venha o teu reino”. Quando é que o reino de Deus vem? Quando pregamos o evangelho e a pessoa se converte. Ele vem para mais uma, para mais uma, até a última pessoa da face da Terra.
A Palavra diz que nós somos raça eleita. Esta é a nossa identidade. Somos sacerdócio real, povo de propriedade exclusiva de Deus. O que isso significa? Que nós temos um dono. “Exclusivo” significa não ter sócio. Deus é meu dono e eu não tenho e nem quero ter nenhuma sociedade. Somos “propriedade exclusiva de Deus, sacerdócio real para anunciar as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz.” Nós temos uma identidade e um trabalho, uma identidade e um papel a desempenhar.
Vamos pensar em uma empresa, a CCR, por exemplo. Ela é responsável por cuidar das estradas. O faxineiro da CCR varre as suas dependências para que ela possa cuidar das estradas; o escriturário e o motorista desempenham suas funções com o mesmo objetivo. Ou seja, todos os que trabalham na CCR têm uma meta só. O que quero dizer com isso? A Igreja tem UM trabalho e todos nós devemos nos dedicar ao chamado dela. Ninguém pode fazer nada diferente, isto é, fazer alguma coisa que não contribua para isso.
Nós temos uma identidade e um chamado. Temos os irmãos que tocam, mas eles têm de tocar de tal forma que os irmãos se sintam animados, cheios do Espírito Santo para pregarem o evangelho. Os grupos nas casas têm de ter essa mesma visão, pois são protótipos ou sementes de congregações. O objetivo de Deus é que em todas as ruas de Jundiaí haja um testemunho do Senhor Jesus Cristo. O grupo na casa não é para alimentar os crentes para que fiquem espiritualmente gordos; não é para “lustrar medalha de santo”; não é para ficarmos bonzinhos; mas é para anunciarmos o evangelho aos nossos vizinhos. O grupo na casa é para que o bairro seja cheio da graça do Senhor. Cada grupo tem de ter a visão de que no seu bairro haverá diáconos e presbíteros. Assim, vamos nos espalhar e enviar missionários dos grupos para outras ruas, outros bairros e outras nações. Este é o nosso DNA. É para isso que fomos chamados: trazer o reino de Deus e provocar uma transformação definitiva nas nações da Terra. Isso não é política partidária, mas a manifestação do reino de Deus, que vai provocar toda essa mudança.
Todos os movimentos de avivamento que aconteceram na história da Igreja produziram missões. O maior e primeiro deles está registrado em Atos, capítulo 2. O Espírito Santo veio e o povo saiu pregando o evangelho: “E sereis cheios do Espírito Santo, e sereis minhas testemunhas em Judeia, Samaria e Jerusalém, até os confins da terra.” (At 1.8)
Este é o nosso chamado, o nosso DNA. Já comentei que eu não sou evangelista, sou tímido. Puxar assunto com uma pessoa estranha do meu lado é um parto. Mas tem algo dentro de mim chamadocompaixão, que me faz abrir a boca e não deixar a pessoa sair sem ouvir alguma coisa do Senhor.
No hospital, comecei a orar pelo médico principal da equipe. Um dia falei para Deus: “Põe na minha mente e no meu coração a oração que o senhor quer que eu faça por ele”. Deus me deu uma oração, que era pedir ao Senhor que desse àquele médico o que ele mais desejasse na vida. Comentei sobre isso e ele ficou impactado. Depois pedi a Deus: “Mostra-me o coração e a mente dele”. E Deus fez isso. Falei com ele segundo o que Deus me havia mostrado. No último dia, em que eu devia fazer um ultrassom para saber se iria ou não ser liberado, eu estava orando de madrugada por ele. “Deus, salva este homem.” E o Senhor me perguntou: “Você está disposto a voltar para o hospital para ele ser salvo?” Tremi, pois ir para o hospital não foi um passeio. Falei: “Senhor, eu estou disposto a voltar”. Depois do exame me entregaram o envelope lacrado. Orei: “Senhor, estou disposto a voltar, mas se possível…” O médico abriu o envelope e disse: “Quer dizer que está livre de mim? Você está curado, completamente”.
Será que nós estamos dispostos a fazer sacrifícios por causa das pessoas? Vou repetir: todo avivamento produz missões. Em oração, Habacuque disse: “Aviva a tua obra no decorrer dos anos e faze-a conhecida”. O que é isso? Os Morávios, na região da Boemia, na Alemanha, experimentaram um avivamento que os fizeram iniciar uma reunião de oração que durou mais de cem anos e mandar mais de trinta mil missionários ao redor do mundo. Avivamento não é a nossa busca; avivamento é o que nos anima a pregar o evangelho. Avivamento não é o fim da história; avivamento é para nos capacitar para irmos às nações, irmos aos vizinhos, produzir milagres e fazer prodígios. “Senhor, enquanto saímos para pregar o evangelho, produza os seus prodígios. Eu vou sair, e o Senhor faz os milagres”.
Por que hoje o Senhor não faz os mesmos milagres que fez no livro de Atos? Porque não estamos onde a igreja de Atos estava e porque Deus não é exibicionista. Jesus perdeu uma chance de fazer um milagre diante de Pilatos e de Herodes porque ele não era exibicionista. Os sinais nos acompanham quando saímos para pregar o evangelho nas ruas, pois Deus tem interesse em confirmar a sua Palavra que nós falamos.
O que vai acontecer depois das eleições eu não sei; Deus não me revelou nada a respeito da política no Brasil. Mas meu desejo é que a Igreja seja transformada para produzir uma transformação. Que deixemos de responsabilizar a outros (como fez Adão com Eva), que não terceirizemos a nossa responsabilidade. Somos nós que temos a responsabilidade de ser sal e luz, de ser candeias postas para iluminar esse mundo tenebroso. Essa responsabilidade é nossa.
Jesus disse: “Enquanto estou convosco eu sou a luz do mundo.” O que isso significa? A palavra “enquanto” dá uma ideia de movimento, de começo e fim. “Enquanto” significa: enquanto estou aqui eu sou a luz do mundo, mas quando eu me for da Terra a luz do mundo serão vocês. Aquele que é a luz do mundo está dentro de nós, por isso, não podemos tomar a candeia e trazê-la para um lugar fechado – um iluminando o outro. Nós temos de ir para onde há trevas. Que Deus nos ajude a isso. Amém!
Transcrição: Maria de Fátima Barbosa
Edição: Luiz Roberto Cascaldi
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