Quanto mais nos aproximamos do final dos tempos, mais necessidade e desejo eu tenho sentido de experimentar da presença de Jesus, mais sede e fome tenho tido de tocar nas vestes dele, assim como aquela mulher com fluxo de sangue. Mas eu tenho me perguntado: como posso experimentar essa presença de forma mais profunda, além da forma tradicional a que estou acostumado? Entendo que a única maneira é me relacionando com Ele exclusivamente pela Graça.
Um dos temas mais importantes nas Escrituras é a Graça. Geralmente a definimos como “favor imerecido”, uma dádiva ou presente de Deus para podermos ser salvos e conduzirmos nossa vida cristã, pois, sem a mesma, seria impossível permanecermos firmes nessa caminhada. O apóstolo Paulo nos ensinou isso:
“…e estando nós mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo, – pela graça sois salvos (…) Porque pela graça sois salvos, mediante a fé; e isto não vem de vós; é dom de Deus”. (Ef 2.5,8)
A salvação pela graça vem 100% de Deus. Nem mesmo a fé que declaramos em Jesus quando nele cremos veio de nós, mas, sim, do próprio Senhor. Isso porque Ele não quer que haja nenhuma obra humana nesse processo, que não tenhamos uma mínima parte sequer de glória pessoal, de que fizemos alguma coisa para conquistar a nossa salvação.
Houve uma linha divisória muito importante para as nossas vidas quando Jesus veio ao mundo: “Porque a lei foi dada por intermédio de Moisés; a graça e a verdade vieram por meio de Jesus Cristo” (Jo 1.17). A rigidez, a falta de misericórdia da Lei foi substituída plenamente pelo perdão amoroso da graça de Jesus Cristo.
Encontramos um exemplo poderoso dessa graça na história da mulher pecadora que ungiu os pés de Jesus:
“Convidou-o um dos fariseus para que fosse jantar com ele. Jesus, entrando na casa do fariseu, tomou lugar à mesa. E eis que uma mulher da cidade, pecadora, sabendo que ele estava à mesa na casa do fariseu, levou um vaso de alabastro com unguento; e, estando por detrás, aos seus pés, chorando, regava-os com suas lágrimas e os enxugava com os próprios cabelos; e beijava-lhe os pés e os ungia com o unguento. Ao ver isto, o fariseu que o convidara disse consigo mesmo: Se este fora profeta, bem saberia quem e qual é a mulher que lhe tocou, porque é pecadora. Dirigiu-se Jesus ao fariseu e lhe disse: Simão, uma coisa tenho a dizer-te. Ele respondeu: Dize-a, Mestre. Certo credor tinha dois devedores: um lhe devia quinhentos denários, e o outro, cinquenta. Não tendo nenhum dos dois com que pagar, perdoou-lhes a ambos. Qual deles, portanto, o amará mais? Respondeu-lhe Simão: Suponho que aquele a quem mais perdoou. Replicou-lhe: Julgaste bem. E, voltando-se para a mulher, disse a Simão: Vês esta mulher? Entrei em tua casa, e não me deste água para os pés; esta, porém, regou os meus pés com lágrimas e os enxugou com os seus cabelos. Não me deste ósculo; ela, entretanto, desde que entrei não cessa de me beijar os pés. Não me ungiste a cabeça com óleo, mas esta, com bálsamo, ungiu os meus pés. Por isso, te digo: perdoados lhe são os seus muitos pecados, porque ela muito amou; mas aquele a quem pouco se perdoa, pouco ama. Então, disse à mulher: Perdoados são os teus pecados. Os que estavam com ele à mesa começaram a dizer entre si: Quem é este que até perdoa pecados? Mas Jesus disse à mulher: A tua fé te salvou; vai-te em paz.” (Lc 7.36-50)
Existe outra história semelhante a essa em Mateus 26, Marcos 14 e João 12, só que com a pessoa de Maria, irmã de Lázaro, que teve a mesma atitude dessa mulher pecadora acima. Portanto, esse é um texto ímpar da Palavra de Deus.
O verso 38 diz que a mulher veio por detrás de Jesus e derramou nos pés dele seu preciosíssimo perfume, enxugando-os depois com seus cabelos. Imaginamos, conforme a cultura da época, que havia uma mesa muito baixa e todos se inclinavam em frente à mesma, apoiando seus corpos com um braço e se alimentando com o outro. Então, quando essa mulher entrou de forma desapercebida, Jesus não a viu, senão apenas quando ele sentiu que ela derramara o unguento sobre seus pés.
Nos versos 44 a 46, Jesus recrimina esse Simão fariseu pela sua atitude crítica em relação à mulher, dizendo-lhe que ele não fez as coisas que ela fez: “…não me deste água para os pés …não me deste ósculo …não me ungiste a cabeça com óleo...”. Esse homem, no entanto, tinha várias virtudes. Ele era fariseu e, portanto, deve ter enfrentado muitas resistências e críticas da parte dos demais fariseus e sacerdotes por ter se aproximado de Jesus. Outra coisa é que ele convidou ou até mesmo implorou que Jesus fosse à sua casa para comer, preparou-lhe um banquete e Jesus aceitou, entrando em sua casa. Penso que isso se assemelha muito aos nossos comportamentos. Nós fazemos muitas coisas boas e certas, mas, às vezes, cometemos falhas, como esse homem cometeu. Talvez podemos dizer que ele era um “crente fraco”, com atitudes cristãs sem relevância se comparadas à atitude dessa mulher pecadora.
Temos, então, três personagens nessa história: Jesus, Simão e a mulher pecadora. Qual a diferença entre eles? Simão entendia que a sua dívida para com Jesus era pequena, algo que, com um pouco de esforço, ele conseguiria pagar. Esse era o entendimento farisaico da Lei, não obstante ela afirmar: “Nenhum deles de modo algum pode remir a seu irmão, ou dar a Deus o resgate dele (pois a redenção da sua alma é caríssima, e cessará para sempre)” (Sl 49.7,8). Então, Simão não conhecia, não sabia, não havia experimentado o que era a Graça. Por isso, apesar dele ter alguns procedimentos cristãos aprováveis, ele amava pouco a Jesus.
Paulo, na sua carta aos Romanos, relata nossa condição antes de experimentarmos a graça de Deus que nos foi concedida por meio de Cristo Jesus:
“Não há justo, nem um sequer, não há quem entenda, não há quem busque a Deus; todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer (…) pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus” (Rm 3.10-12,23,24).
Todos estamos debaixo da mesma condenação, não há um justo sequer, só que cada um tem formas diferentes de entender qual o tamanho da sua dívida. Simão devia pensar que para ele era mais fácil receber o perdão, afinal, aquela mulher era uma prostituta, repudiada na cidade por todas as outras mulheres. Já a mulher, entendia que sua dívida era imensa, praticamente impagável. No entanto, ela sabia que o Messias haveria de vir, teve uma convicção muito grande que este era Jesus e, então, teve essa forte atitude de reconhecimento e arrependimento dos seus pecados diante dele.
Colocando em termos financeiros a título de ilustração, provavelmente Simão acreditava ter uma dívida de R$ 50,00 junto a Deus, e esta mulher, de R$ 500,00. De quanto você acredita ser sua dívida junto ao Senhor? Isso é algo que cada um tem de sentir dentro de si.
Há muitos anos eu assisti um programa de TV do famoso pregador norte-americano, Rex Humbard (1919-2007). Nesse programa, sua filha Elizabeth estava dando um testemunho, dizendo algo semelhante a isso: “Graças a Deus, porque desde pequena eu conheci o Senhor e não fiz o que as outras adolescentes da minha idade fizeram. Eu não entrei por esse mundo de pecados, de imoralidades e, por isso, hoje me considero limpa, santa.” Ora, isso é maravilhoso e nosso desejo é que todos sejamos assim. Mas, qual era o tamanho da dívida dessa mulher? 50 ou 500? Com certeza de 50, porque ela não experimentou a enorme medida da Graça do Pai (pelo menos por aquele testemunho; pode ter havido outras realidades em sua vida que a tenham levado a experimentar a Graça).
Uma das maiores dificuldades que temos na vida é entender o tamanho da nossa dívida, entender a realidade do céu e do inferno. A mulher pecadora do texto de Lucas 7 reconhecia que era uma grande pecadora, que tinha uma dívida impagável e que não havia saída para ela. Era uma mulher sem identidade, endereço, futuro e, ainda por cima, vivia a pior condição que uma mulher poderia viver: era uma prostituta. No entanto, ela teve uma atitude inusitada, quebrou um “protocolo” muito grande: ela entrou em um ambiente exclusivo para homens, quebrou as normas sociais e religiosas vigentes e tocou em Jesus. Sua atitude foi de não se conter, de se rebelar contra os ritos, cerimônias e tradições para poder afirmar sua imensa dívida de gratidão e amor a Jesus. Ela compreendia o tamanho da sua dívida e rompeu com todas as barreiras e preconceitos para alcançar seu perdão. Ela se deixou ser alcançada pela poderosa e maravilhosa Graça de Jesus!
Acredito que, após as palavras de Jesus: “Perdoados são os teus pecados”, ela não sentiu mais nenhuma condenação sobre sua vida. Agora ela estava perdoada, limpa, santa, pura, restaurada pela graça; não precisava mais pensar e se preocupar com sua vida pecaminosa; entendeu a grandeza do perdão. O Messias havia chegado e, com ele, o fim da vergonha dela.
Muitos homens e mulheres de Deus no Antigo Testamento experimentaram essa “graça antecipada”. Um deles foi Davi. Ele tocou na Graça, embora não a tivesse experimentado na mesma proporção que nós a experimentamos por meio de Jesus, porque o Espírito Santo ainda não havia sido derramado.
Em 2 Samuel 6, Davi levou a Arca de volta a Jerusalém e o texto diz que ele “dançava com todas as suas forças diante do Senhor; e estava cingido de uma estola sacerdotal de linho. Assim, Davi, com todo o Israel, fez subir a arca do Senhor, com júbilo e ao som de trombetas.” (v. 14,15). Ele se despiu das suas vestes reais, rompeu com todas as tradições, desnudou-se diante de todos, sendo, inclusive, repreendido por sua esposa por isso (v. 16). Sua atitude era ridícula aos olhos humanos. Imagine o próprio rei entrando na cidade vestido apenas de uma túnica, gritando, saltando e cantando diante de todos!
Sabemos que aquela Arca simbolizava a presença de Deus, mas em nada se compara à presença ressurreta, viva e gloriosa de Jesus que podemos desfrutar e adorar hoje. Ora, se Davi estivesse em nosso meio hoje, qual não seria sua expressão de louvor e adoração, qual não seria sua alegria e exaltação a Deus (talvez muitas vezes superior à nossa)?
Quando entendemos a Graça perdemos os “protocolos” em nosso relacionamento com Jesus. As normas e tradições acabam, as prioridades naturais desaparecem, nos soltamos totalmente nos braços dele. Às vezes somos tão presos porque ainda não experimentamos a real dimensão dessa Graça. Talvez, em nosso coração, nossa dívida seja apenas de 50 e não de 500. Se compreendêssemos isso nossa vida seria muito diferente. Davi disse:
“Uma coisa peço ao SENHOR, e a buscarei: que eu possa morar na Casa do SENHOR todos os dias da minha vida, para contemplar a beleza do SENHOR e meditar no seu templo.” (Sl 27.4)
Ele já tinha a revelação de Jesus assentado à direita do Pai e, por isso, desejava morar na Casa de Deus para contemplar por toda a eternidade a beleza, a formosura do Senhor Jesus. Davi entendeu a Graça!
Em Mateus 26, lemos a história de Maria, irmã de Lázaro, que também ungiu a Jesus:
“Ora, estando Jesus em Betânia, em casa de Simão, o leproso, aproximou-se dele uma mulher, trazendo um vaso de alabastro cheio de precioso bálsamo, que lhe derramou sobre a cabeça, estando ele à mesa. Vendo isto, indignaram-se os discípulos e disseram: Para que este desperdício? Pois este perfume podia ser vendido por muito dinheiro e dar-se aos pobres. Mas Jesus, sabendo disto, disse-lhes: Por que molestais esta mulher? Ela praticou boa ação para comigo. Porque os pobres, sempre os tendes convosco, mas a mim nem sempre me tendes; pois, derramando este perfume sobre o meu corpo, ela o fez para o meu sepultamento. Em verdade vos digo: Onde for pregado em todo o mundo este evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua.” (Mt 26.6-13)
Esse perfume era uma essência caríssima, um “bálsamo precioso” como diz o texto. Era uma espécie de poupança que as mulheres faziam para o caso de necessidades futuras. Quando Maria quebrou o vaso e derramou a essência na cabeça de Jesus, os discípulos julgaram como um grande desperdício essa atitude, pois ela poderia ter vendido por 300 moedas de prata (Jo 12.5), algo equivalente a quase um ano de trabalho. Judas vendeu Jesus por 30 moedas, ou seja, o que ela fez foi dez vezes mais.
Maria tinha uma vida aparentemente limpa, honesta, santa. No entanto, ela tinha uma revelação do tamanho da sua pecaminosidade e da graça de Jesus. Ela fez um ato profético: o preparou para o sepultamento. Horas depois, ao ser crucificado, essa essência ainda permanecia no corpo de Jesus. Ele ficou das 9h da manhã às 3h da tarde debaixo de um sol escaldante, suando, sangrando… mas, à medida em que ele transpirava, aquele perfume exalava do seu corpo alcançando as pessoas ao redor. Isso é amor, gratidão, graça!
Jesus disse algo muito forte sobre essa atitude de Maria: “Onde for pregado em todo o mundo este evangelho, será também contado o que ela fez, para memória sua”. O que ela fez contou para sua memória. Hoje nós também estamos aqui para a memória de Jesus. Vivemos para compreender a grandeza do seu perdão, da sua graça. Tudo é dele e para ele, nada é ou provém de nós mesmos. Jesus, porém, abriu uma exceção ao dividir parte da sua glória com essa mulher, dizendo que em todo o mundo seria proclamado o que ela havia feito.
Maria entendia perfeitamente o que estava fazendo, pois já havia experimentado da graça de Jesus:
“Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos. Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me. Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada.” (Lc 10.38-42) (grifos nosso)
Esta também é a nossa melhor parte, a única coisa realmente valiosa que nos basta: Jesus!
Um relacionamento pela graça com Jesus envolve duas coisas: 1) Quebrar protocolos; 2) Desperdício. Tudo o que a mulher pecadora e Maria tinham, elas derramaram sobre Jesus. Desperdício significa “esbanjamento, gasto exagerado, extravagância, perda”. Apenas pessoas verdadeiramente apaixonadas por Jesus conseguem quebrar protocolos, desperdiçar o que são, gastar o que têm, fazer extravagâncias por ele; pessoas que reconheceram que suas vidas não seriam nada sem a graça, glória, perdão, misericórdia, amor, presença de Jesus.
Às vezes eu pergunto ao Senhor durante minhas orações às madrugadas: “Jesus, qual extravagância eu estou fazendo para Ti? Que protocolos tenho quebrado, que desperdícios tenho feito para o Senhor?” Normalmente somos muito presos, como aqueles discípulos que repreenderam a atitude de Maria, e não nos soltamos, não quebramos protocolos, não fazemos extravagâncias para Jesus. Por isso, precisamos analisar nosso coração para ver se estamos entendendo o que é a Graça, o que é o inferno ou lago de fogo, pois a Palavra diz que Deus “nos libertou do império das trevas e nos transportou para o reino do Filho do Seu amor” (Cl 1.13). Isso significa que já estávamos no lago de fogo – apenas não o tínhamos ainda experimentado na prática – mas Jesus nos arrancou de lá!
Muitas vezes somos semelhantes aos irmãos da igreja de Éfeso, que João fala em Apocalipse 2:
“Conheço as tuas obras, tanto o teu labor como a tua perseverança, e que não podes suportar homens maus, e que puseste à prova os que a si mesmos se declaram apóstolos e não são, e os achaste mentirosos; e tens perseverança, e suportaste provas por causa do meu nome, e não te deixaste esmorecer. Tenho, porém, contra ti que abandonaste o teu primeiro amor.” (vs. 2-4)
Eles fizeram muitas coisas boas e agradáveis a Deus, mas se esqueceram da principal: abandonaram o primeiro amor – Jesus, o centro de suas vidas. Às vezes fazemos obras com ótimas intenções, servimos a igreja com nossos dons e ministérios. No entanto, Jesus os advertiu dizendo: “Lembra-te, pois, de onde caíste, arrepende-te e volta à prática das primeiras obras” (v.5). Essas primeiras obras são aquelas que experimentamos na nossa conversão, a admiração, a paixão por Jesus. Passávamos o dia inteiro orando, meditando, contemplando, adorando o Senhor, buscando Sua presença, lendo Sua Palavra, agradecendo pela libertação do inferno e pela graça redentora e transformadora que havia nos alcançado.
Precisamos, sim, fazer boas obras, mas se Jesus não for o centro, o Senhor de nossas vidas, de nada elas servirão. Ele disse: “Quem permanece em mim, e eu, nele, esse dá muito fruto; porque sem mim nada podeis fazer” (Jo 15.5). Se não estivermos presos na Videira verdadeira, recebendo a seiva diária de Jesus, nossa obras serão nulas.
Normalmente imaginamos que as obras são esforços pessoais e nos preocupamos em saber como vamos conseguir produzi-las. Mas “obras” significa estar ligado na Videira, receber da vida de Jesus e, então, produzir frutos. Frutos são automáticos, não requerem esforço, vêm da própria seiva da Videira. Quando estamos ligados a Jesus nossas obras são frutíferas e espontâneas, não requerem sacrifício próprio, assim como a árvore não se esforça para produzir seus frutos. Temos, no entanto, uma facilidade enorme de querer fazer coisas com nossos próprios esforços, mas isso não é viver pela Graça. Precisamos tirar da nossa mente a ideia de que somos “bonzinhos”. Penso que esse é um dos maiores problemas dos cristãos. Paulo disse que “onde abundou o pecado, superabundou a graça” (Rm 5.20). Ora, se nos julgarmos bons, qual a finalidade da Graça em nossas vidas?
Observo, em muitas reuniões de orações, que passamos horas orando e quase ninguém perde perdão pelos seus pecados. Mas se o próprio Jesus nos ensinou na oração do Pai Nosso que devemos pedir perdão pelas nossas dívidas (e isso diariamente), se passarmos um dia sem fazê-lo é porque alguma coisa está errada. Será que somos tão “bonzinhos” a ponto de não termos pecados para serem perdoados? Não são muitos os que se ajoelham, choram, clamam, confessam seus pecados e pedem perdão ao Senhor. O apóstolo João disse em sua epístola:
“Se dissermos que não temos pecado nenhum, a nós mesmos nos enganamos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os pecados e nos purificar de toda injustiça. Se dissermos que não temos cometido pecado, fazemo-lo mentiroso, e a sua palavra não está em nós.” (1 Jo 1.8-10)
Tempos atrás eu estava muito arrasado, quebrado com algumas atitudes que eu tinha tido. Caminhando, comecei a falar com o Senhor: “Jesus, você me abandonou! Não é possível que eu, um servo teu, um pastor, possa ter esse tipo de atitude!” Então eu senti ele me dizendo: “Que bom que você se acha assim, porque só desta maneira eu posso agir na sua vida, só assim a minha graça pode agir na sua vida!” É claro que eu não quero pecar, luto diariamente contra o pecado, mas ele não me assusta mais, porque Jesus resolveu o problema do pecado lá na cruz por mim. Então, eu tenho convicção de que estou firme nele, preso à Videira. No entanto, se alguma coisa está acontecendo comigo é porque ele quer tratar comigo, é porque eu preciso aprender alguma coisa. Não estou estimulando ninguém a pecar, mas João disse: “Filhinhos meus, estas coisas vos escrevo para que não pequeis. Se, todavia, alguém pecar, temos Advogado junto ao Pai, Jesus Cristo, o Justo” (1 Jo 2.1).
Algo que às vezes nos deixa confusos é uma expressão do apóstolo Paulo: “Cristo Jesus veio ao mundo para salvar os pecadores, dos quais eu sou o principal” (1 Tm 1.15). Outra versão bíblica diz “dos quais eu sou o pior”. Diante dessa frase, temos três alternativas: a) Será que ele usou de falsa humildade? Porque às vezes nos colocamos nessa posição de dizer que somos maus no intuito de tentar demonstrar humildade; b) Será que ele realmente era o pior dos pecadores? c) Será que ele se realmente se sentia assim? Afinal, ele perseguiu e matou muitos cristãos e, de repente, encontrou a Graça e percebeu o estado de miséria que vivia. Creio que essa é a alternativa correta, essa era a realidade da sua vida. Ele disse “eu sou” – e isso não se referia ao passado, mas ao presente.
Creio que Paulo aprendeu a conviver de tal modo com a santidade, grandeza, graça de Deus que, a cada revelação que ele tinha, mais se sentia pecador e distante da realidade de um verdadeiro seguidor de Cristo. Portanto, ele se sentia o pior dos pecadores. Faço, então, a seguinte pergunta: será que eu e você nos sentimos assim também? Se não nos sentimos pelo menos próximos disso, a nossa dívida é só de 50! Não estamos percebendo a beleza, a grandeza, a majestade da obra de Cristo, o valor do sangue dele derramado em nosso favor! Precisamos aprender a viver pela Graça!
Um exemplo de viver pela graça é da mulher Sulamita, do livro de Cantares de Salomão, que buscava ansiosamente pelo seu noivo. A igreja, como noiva de Jesus, deve buscar viver esse mesmo tipo de relação com ele. Muitas mulheres na Bíblia foram elogiadas por Deus devido a esse tipo de busca, de comportamento, de relação para com Ele, justamente porque elas aprenderam a ser e agir como noivas. Ora, se não tivermos essa mesma atitude, como seremos a noiva de Jesus?
“Ouço a voz do meu amado; ei-lo aí galgando os montes, pulando sobre os outeiros. O meu amado é semelhante ao gamo ou ao filho da gazela; eis que está detrás da nossa parede, olhando pelas janelas, espreitando pelas grades. O meu amado fala e me diz: Levanta-te, querida minha, formosa minha, e vem. (…) O meu amado é meu, e eu sou dele; ele apascenta o seu rebanho entre os lírios. (…) O seu falar é muitíssimo doce; sim, ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, tal, o meu esposo, ó filhas de Jerusalém. (…) Eu sou do meu amado, e o meu amado é meu; ele pastoreia entre os lírios. (…) Eu sou do meu amado, e ele tem saudades de mim.” (Ct 2.8-10,16; 5.16; 6.3; 7.10)
Devemos, como noiva, declarar o mesmo a Jesus: “Tu és o meu amado! Eu sou teu e tu és meu!” Diz ainda o texto, que ela saiu à noite procurando seu amado. Os guardas a encontraram, bateram nela, questionaram a quem ela buscava e ela descreveu-lhes como ele era:
“Abri ao meu amado, mas já ele se retirara e tinha ido embora; a minha alma se derreteu quando, antes, ele me falou; busquei-o e não o achei; chamei-o, e não me respondeu. Encontraram-me os guardas que rondavam pela cidade; espancaram-me e feriram-me; tiraram-me o manto os guardas dos muros. (…) O meu amado é alvo e rosado, o mais distinguido entre dez mil. A sua cabeça é como o ouro mais apurado, os seus cabelos, cachos de palmeira, são pretos como o corvo. Os seus olhos são como os das pombas junto às correntes das águas, lavados em leite, postos em engaste. As suas faces são como um canteiro de bálsamo, como colinas de ervas aromáticas; os seus lábios são lírios que gotejam mirra preciosa; as suas mãos, cilindros de ouro, embutidos de jacintos; o seu ventre, como alvo marfim, coberto de safiras. As suas pernas, colunas de mármore, assentadas em bases de ouro puro; o seu aspecto, como o Líbano, esbelto como os cedros. O seu falar é muitíssimo doce; sim, ele é totalmente desejável. Tal é o meu amado, tal, o meu esposo, ó filhas de Jerusalém.” (Ct 5.6,7,10-16)
Ela disse às filhas de Jerusalém: “Se encontrardes o meu amado, que lhe direis? Que desfaleço de amor.” (5.8). Relacionamento com Jesus é estar apaixonado, enfermo, desfalecendo de amor por ele! Ora, se apenas pedimos coisas a ele, alguma coisa está errada em nosso coração. Se pensamos em Jesus somente quando precisamos resolver nossos problemas, não estamos tendo um noivado verdadeiro com ele. Não estamos demonstrando ser uma noiva apaixonada, quebrando protocolos, desperdiçando tudo o que somos e temos por causa dele.
Essa semana eu assisti uma reportagem na TV sobre uma mulher que teve seu coração transplantado. O repórter lhe perguntou: “Como a senhora está se sentindo agora?” Ela respondeu: “Eu estou feliz, pois estou viva, mas também estou muito triste, porque alguém teve de morrer por isso. Mas, enquanto esse coração pulsar, tiver vida, eu vou me lembrar que custou uma vida para que eu tivesse vida. Cada batida que esse coração der, me lembrarei que custou o preço de uma pessoa!” Essa é a verdadeira pregação do Evangelho!
Cantamos uma música que diz que Deus nos deu um novo coração, “um coração regenerado pelo Pai”. A cada batida desse novo coração devemos nos lembrar que custou a vida de Jesus, que há uma nova vida em nós, que o inferno não nos ameaça mais, que há redenção, salvação, perdão, justificação, vida eterna para nós! A cada segundo devemos agradecer, buscar e amar Jesus. Devemos procurá-lo ao amanhecer, ao entardecer, ao anoitecer, na madrugada, nas esquinas, nas ruas, em casa, no trabalho, nos afazeres – e não somente nos cultos, na igreja. Temos de sentir saudades e desejo de Jesus em cada momento do nosso dia a dia.
Quero terminar com um exemplo. Minha sogra, D. Ondina, faz 96 anos no dia 07/04/17. Ela é uma mulher que aprendeu a viver pela Graça e tem ensinado muito a mim e à minha família. Ela sempre orou que não queria sofrer em sua velhice, que não queria ir para hospitais e dar trabalho à família. E Deus tem honrado sua vida nesse sentido. Eu a conheço há 46 anos e uma única vez ela precisou ir a um Hospital. Ela não precisa tomar remédios e dificilmente vai a médicos. Às vezes, ela tem umas dores na coluna e toma remédio por apenas 3 dias. Mora em uma chácara, anda todos os dias, contempla a natureza, louva a Deus, tem sua devocional diária, tem sua listinha de orações.
Quando a conheci, ela dizia que estava tendo algumas visões noturnas de monstros, mas orava: “Jesus, eu não quero ver monstros, eu quero ver o Senhor, o Seu rosto”. Então, uma noite, seu quarto ficou iluminado, ela viu Jesus entrando e a partir de então sua vida mudou completamente. Houve duas ocasiões em que ela estava andando em São Paulo e escorregou, como se alguém lhe desse uma “rasteira”. Em um desses tombos, um homem se aproximou, estendeu-lhe a mão, levantou-a, acarinhou-a e disse: “Irmã, é o inimigo quem está fazendo isso, mas você está bem!” Em seguida ele desapareceu. Ela começou a procurá-lo, perguntar por ele e as pessoas diziam: “Ninguém lhe ajudou, você se levantou sozinha”. Isso é viver pela Graça, experimentar Jesus diariamente, reconhecer sua imensa dívida e gratidão a Ele. Ela não precisa de nada, a não ser de Jesus!
Esses dias ela começou a cantar a música que diz: “Glórias pra sempre, ao Cordeiro de Deus…”. É interessante que Jesus é chamado de Cordeiro por 28 vezes no livro de Apocalipse, aquele que “como cordeiro foi levado ao matadouro; e, como ovelha muda perante os seus tosquiadores, ele não abriu a boca” (Is 53.7), mas que venceu e vive eternamente:
“Vi e ouvi uma voz de muitos anjos ao redor do trono, dos seres viventes e dos anciãos, cujo número era de milhões de milhões e milhares de milhares, proclamando em grande voz: Digno é o Cordeiro que foi morto de receber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e louvor. Então, ouvi que toda criatura que há no céu e sobre a terra, debaixo da terra e sobre o mar, e tudo o que neles há, estava dizendo: Àquele que está sentado no trono e ao Cordeiro, seja o louvor, e a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos dos séculos. E os quatro seres viventes respondiam: Amém! Também os anciãos prostraram-se e adoraram.” (Ap 5.11-14)
Aleluias! Glórias ao Senhor! Que possamos, nesses dias que antecedem a gloriosa volta de Jesus, aprendermos a nos relacionar com ele exclusivamente e totalmente pela Graça! Amém!
Oração:
“Ó Senhor, ensina-nos a sermos apaixonados por Ti. Ensina-nos que a nossa dívida era de 500 e que a Tua Palavra diz que quem muito é perdoado, muito ama. Ensina-nos a entender a grandeza do Teu perdão para que O amemos muito, para que oremos muito. Senhor, nos carecemos de Ti, carecemos de tocar na Graça e sabemos que a Graça é a pessoa de Jesus. Sem isso estamos perdidos e não podemos viver, pois não somos nada sem Ti. Ensina-nos a experimentar Tua presença, a ouvir a Tua doce voz, a sentir o Teu maravilhoso perfume. Ensina-nos a nos curvar diante da Tua majestade, pois a Tua Palavra diz que todo joelho se dobrará e toda língua confessará que Tu és o Senhor, mas temos feito essas coisas apenas de aparência. Por isso, Senhor, ensina-nos a reconhecer nossa fraqueza, a reconhecer nossos pecados, a conhecer a dimensão da Tua poderosa Graça. Ensina-nos que somos pecadores, tira de nós qualquer presunção de que não somos tão maus, de que não precisamos diariamente dessa Graça, da Tua presença. Queremos entender que muito fomos perdoados e, por isso, muito vamos Te amar. Em nome de Jesus Te pedimos e Te agradecemos. Amém!”
Transcrição e Edição: Luiz Roberto Cascaldi
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