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Sem amor nada serei

Atualizado: 8 de jul. de 2021




Deus está nos chamando para um novo nível diante de Sua presença e isso implica em sair da posição que estamos hoje, como indivíduos e igreja. Existem, sim, inúmeras coisas boas em nossas vidas e em nosso meio, mas Deus anseia fazer muito mais.

Tudo o que fazemos ou deixamos de fazer afeta o Corpo de Cristo. Por exemplo, quando eu sou perdoador, ‘rápido em perdoar’, estou cooperando para que o Espírito Santo seja liberado em minha vida e as pessoas sejam abençoadas. Jesus falou sobre perdoar “setenta vezes sete vezes ao dia”, ou seja, perdoar sempre, ilimitadamente (Mt 18.22), pois esta é a vontade dele. Se ainda existem pendências quanto ao perdão, isso pode afetar minha vida, minha família, meus negócios, enfim, todas as áreas da minha vida e também a própria igreja. Reter o perdão é viver aprisionado e, inclusive, dá margem para Satanás agir (2 Co 2.10,11).

Temos aprendido que a amargura entristece o Espírito Santo (Ef 4.30-32). É por isso que perdão e o avivamento caminham juntos. Se eu quero um avivamento na minha vida, na minha família e na igreja preciso estar com meu coração limpo, livre de toda amargura. Isso implica em não querer “dar o troco” ou se vingar de pessoas, pois nós temos esse “senso de justiça” que, se a pessoa faz algo errado, ela “precisa sofrer as consequências”.

Ouvi um testemunho de uma irmã que havia se convertido há algum tempo, mas cuja mãe não era convertida, e ela orava por isso. No entanto, sua oração era: “Senhor, eu quero que a minha mãe se converta, mas deixe ela sofrer um pouco mais por causa de tudo o que ela fez!” Mas, ouvindo uma palavra sobre libertação da amargura, ela se arrependeu e mudou de atitude. Nosso coração precisa estar livre desse sentimento e sempre orar para que Deus (e nós) perdoe as pessoas que nos fizeram algum mal. Ora, se Jesus disse que devemos perdoar os inimigos, quanto mais os amigos, os que nos são mais próximos, pois são esses que realmente nos machucam quando nos prejudicam em alguma coisa. A traição não vem do inimigo e, sim, do amigo.

Perdoar e amar são os dois lados de uma mesma moeda. Essa “moeda” é a vida de Cristo em nós. Antes de sua morte, Jesus disse aos seus discípulos:

Um novo mandamento vos dou: que vos ameis uns aos outros; assim como eu vos amei a vós, que também vós vos ameis uns aos outros. Nisto conhecerão todos que sois meus discípulos, se tiverdes amor uns aos outros. (Jo 13.34,35)

Por que ele disse “novo mandamento”? Um tempo antes, alguém lhe havia perguntado qual era o maior dos mandamentos e Jesus respondeu que era o amor – amor a Deus, primeiramente, e depois ao próximo (Mr 12.28-30). Mas o que há de novo nessa declaração de Jesus? O padrão anterior (V.T.) era “ame ao próximo como a ti mesmo”, mas agora ele estava inaugurando um novo padrão: “amem como eu vos amei”. É um outro nível, é um novo mandamento. Portanto, guarde essa frase no seu coração: VIDA CRISTÃ É AMAR. O cristão AMA e, se não ama, é porque não conhece a Deus:

Amados, continuemos a amar uns aos outros, pois o amor vem de Deus. Quem ama é nascido de Deus e conhece a Deus. Quem não ama não conhece a Deus, porque Deus é amor. Deus mostrou quanto nos amou ao enviar seu único Filho ao mundo para que, por meio dele, tenhamos vida. É nisto que consiste o amor: não em que tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou e enviou seu Filho como sacrifício para o perdão de nossos pecados. Amados, visto que Deus tanto nos amou, certamente devemos amar uns aos outros. Ninguém jamais viu a Deus. Mas, se amamos uns aos outros, Deus permanece em nós, e seu amor chega, em nós, à expressão plena. (1 Jo 4.7-12)

O amor é a essência, o fundamento, o cerne da vida cristã. Perdão é para corrigir, consertar o negativo; amor é para realizar o positivo, é onde vamos fazer a diferença como cristãos autênticos. Pedro também é enfático nessa questão:

Mas já está próximo o fim de todas as coisas; portanto sede sóbrios e vigiai em oração; tendo antes de tudo ardente amor uns para com os outros, porque o amor cobre uma multidão de pecados; sendo hospitaleiros uns para com os outros, sem murmuração; servindo uns aos outros conforme o dom que cada um recebeu, como bons despenseiros da multiforme graça de Deus. (1 Pe 4.7-10)

Outra forte afirmação, agora de Paulo:

A ninguém devais coisa alguma, senão o amor recíproco; pois quem ama ao próximo tem cumprido a lei. Com efeito: Não adulterarás; não matarás; não furtarás; não cobiçarás; e se há algum outro mandamento, tudo nesta palavra se resume: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo. O amor não faz mal ao próximo. De modo que o amor é o cumprimento da lei.  (Rm 13.8-10)

Santo Agostinho de Hipona dizia: “Ame – e faça o que quiser.” Ora, se você ama a Deus irá honrar a Ele. Não se curvará diante de estátuas, não tomará o nome Dele em vão (fazer piadas colocando o nome Dele no meio) etc. Um irmão, no passado, disse: “Não faça chacota com nada da Bíblia!”; isso porque a Palavra de Deus é santa e não podemos brincar com ela. Em Êxodo 20, lemos que os primeiros quatro mandamentos dizem respeito a Deus, enquanto os outros seis são relativos ao nosso convívio com as pessoas. Se amarmos ao próximo não iremos cobiçar, matar, roubar, adulterar etc., pois todas essas coisas são contrárias aos princípios do verdadeiro amor de Deus que habita em nós.

É importante salientar que amor não é “sentimento”. O verdadeiro amor de Deus (ágape) não deve ser confundido com afeto, amizade (que fazem parte), mas o ágape é desejar sempre o bem da outra pessoa. Deus é amor porque Ele sempre deseja o melhor para nós.

No capítulo 12 de 1 Coríntios, Paulo discorre acerca dos dons espirituais. Os dons são manifestações de Deus, são formas Dele nos abençoar e edificar. No entanto, ele termina dizendo: “Mas procurai com zelo os maiores dons. Ademais, eu vos mostrarei um caminho sobremodo excelente.” (v.31). Ele diz que agora vai “mostrar-lhes um estilo de vida que supera os demais” e, então, passa a falar do AMOR como este caminho, como um estilo de vida:

Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine. E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria. E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria. O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece, não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal; não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá; porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos; mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado. Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido. Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor. (1 Co 13)

Esta versão bíblica acima, assim como várias coisas que vou falar a seguir, retirei de um livro chamado “Amor: a melhor coisa do mundo”, de Henry Drummond, escrito no século XIX. O autor nos confronta com a seguinte pergunta: “Será que nós realmente nos amamos? Como está a sua dedicação a isto que é a coisa mais importante que existe, o amor?

Segundo o apóstolo Paulo, o amor é o dom ou o bem supremo a ser alcançado nesta vida. Assim como a luz é composta de muitas cores, o amor também tem vários espectros ou componentes, que discorremos a seguir:

O ESPECTRO DO AMOR

1) O AMOR É SOFREDOR

Isso fala de paciência. Quem ama espera, tem calma, espera o momento certo, ainda que esteja disposto a agir. O amor tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

Sem querer criticar qualquer congregação ou pregador, tem-se tentado tirar o aspecto do sofrimento nas pregações do Evangelho em nossos dias. Parece, até, que isso não faz mais parte da vida cristã. Mas isto é errado, não é bíblico. Deus não é sádico, não deseja que Seus filhos sofram, mas o sofrimento faz parte da vida. Vivemos em um mundo caído, perdido no pecado, dominado pelo seu “príncipe” atual (Satanás) e temos uma natureza pecaminosa. Portanto, tudo isso provoca coisas ruins e desagradáveis.

O próprio Senhor Jesus disse que, para ser seu discípulo, teríamos de tomar a cruz a cada dia (cruz é sofrimento e morte, Mt 16.24). Disse, também, que nesse mundo teríamos aflições (Jo 16.33) e que seríamos bem-aventurados se fôssemos perseguidos por causa dele (Mt 5.10). Na conversão de Saulo, Ananias lhe disse que ele sofreria por causa de Cristo (At 9.15,16). Paulo e Silas se alegraram por serem presos e açoitados por causa de Jesus (At 16.25). Paulo e Barnabé disseram aos irmãos:

Depois de terem anunciado as boas-novas em Derbe e feito muitos discípulos, Paulo e Barnabé voltaram a Listra, Icônio e Antioquia da Pisídia, onde fortaleceram os discípulos. Eles os encorajaram a permanecer na fé, lembrando-os de que é necessário passar por muitos sofrimentos até entrar no reino de Deus. (At 14.21-22)

C.S. Lewis afirmou: “Se você quer uma religião confortável, não recomendo o Cristianismo!” O sofrimento, portanto, faz parte da vida cristã. Se você for perseguido por ser discípulo de Jesus dê glórias a Deus, pois isto faz parte, foi previsto. O nosso “conforto” será somente na volta de Jesus, na glória da eternidade. É claro que temos inúmeros motivos de alegria, satisfação e gozo em Deus, mas, infelizmente, muitos “discursos” em nossos dias estão retirando essa ênfase tão importante.

2) O AMOR É BENIGNO

Isso fala de bondade. O Senhor Jesus gastou muito mais tempo fazendo o bem para as pessoas do que propriamente discursando. Ele era a própria bondade em ação. Portanto, a melhor coisa que podemos fazer para Deus é ser bondoso para com os Seus filhos. Deus nos deu essa grande bênção de podermos proporcionar prazer, alegria e felicidade aos que nos cercam – sejam pobres, ricos, iguais – todos! Às vezes é fácil eu ser bondoso com os pobres, mas parece ser mais difícil com os que estão no meu mesmo nível social. Então, sejamos abundantes nessa virtude, pois o retorno é garantido e eterno. A vida é breve, então, aproveitemos as oportunidades de fazer o bem.

Os escoteiros têm um lema de fazer pelo menos uma boa ação todos os dias. Infelizmente, porém, a grande maioria dos cristãos não fazem isso, apesar de termos todas as oportunidades e condições possíveis. São pequenos gestos de bondade que ficarão para a eternidade. Tudo o que for feito com amor genuíno permanecerá para sempre. Há dezenas de coisas que fazemos todos os dias que não servem para nada, como também disse C.S. Lewis: “Tudo aquilo que não é eterno é eternamente inútil.” Vamos investir nosso tempo e energia no que é eterno: com gente, com pessoas.

3) O AMOR NÃO É INVEJOSO

Isso fala de generosidade. Sim, há muita inveja no meio cristão! “A inveja é chamada de pecado destruidor, porque não se conforma com possuir mais ou melhor. Gostaria, sim, de destruir o que o outro possui. Por isso mesmo, acaba destruindo o próprio invejoso, corroendo o seu coração com o desgosto de contemplar o bem do próximo”, descreve Jesus Hortal, doutor em Direito Canônico e reitor da PUC/RJ. Ou seja, não é que o invejoso deseje mais coisas, mas ele não quer que o outro tenha essas coisas. Isso é justamente o oposto do amor! O amor deseja o bem do próximo, deseja de coração que ele tenha muito mais.

Segundo Hortal, “…a doutrina clássica define a inveja como ‘uma tristeza por causa do bem alheio’. Ou seja, o incômodo surge em decorrência não do próprio sentimento de falta, mas como uma infelicidade pela posse do outro.” Em outras palavras, é mais fácil para nós “chorar com os que choram” do que “se alegrar com os que alegram” (Rm 12.15). Portanto, elimine a inveja da sua vida, pois essa lhe será por destruição.

  1. O AMOR NÃO SE VANGLORIA

Isso fala de soberba, de orgulho. Traduzindo para a linguagem atual, a pessoa que ama “não se acha”, não fica apenas pensando em si mesma, em seu próprio bem. Há um grande perigo em orgulhar-se das boas coisas que fazemos, mas o amor se esconde dele próprio e, até, mesmo, renuncia a satisfação consigo mesmo.

  1. O AMOR NÃO SE PORTA INCONVENIENTEMENTE

Isso fala de cortesia, respeito, boas maneiras. Tem a ver com o convívio social. Uma pessoa, por mais iletrada que seja, se for nascida de novo, se tiver o amor de Deus em seu coração será bem-comportada, terá boas maneiras. Aliás, cultura, conhecimento ou condição econômica não são sinônimos de boas maneiras. Ser cavalheiro ou dama é agir de forma suave, sem rudeza ou indelicadeza. Cortesia é agir com amor nas pequenas coisas. Existem diariamente inúmeras formas de demonstrar amor, carinho e cortesia para com as pessoas.

  1. O AMOR NÃO BUSCA SEUS PRÓPRIOS INTERESSES

Isso é altruísmo. Paulo disse: “Não olhe cada um somente para o que é seu, mas cada qual também para o que é dos outros.” (Fp 2.4). Em muitas ocasiões, seremos levados por amor a renunciar aos nossos próprios direitos. Reconheço que é difícil não buscar nenhum interesse próprio, mas nada é difícil demais para o amor, pois o jugo de Jesus é suave (Mt 11.30) e “há maior alegria em dar do que em receber” (At 20.35). Altruísmo é uma forma de buscar o interesse do outro. A maioria das pessoas vive atrás dos seus próprios interesses, mas esse não é o caminho da felicidade; o contrário é que é.

  1. O AMOR NÃO SE IRRITA

Isso é domínio próprio. O “mau gênio” é algo muito mais sério do que pensamos. Às vezes, dizemos que é “de família, do temperamento, da educação que recebemos” etc. No entanto, a Bíblia nos mostra que esse é um dos elementos mais destrutivos da natureza humana. Essa é uma característica que não expressa Jesus e o evangelho. A natureza caída, sim, é a responsável pelo mau gênio. Confesso que muitas vezes me enrosquei nesse tal “miserável mau gênio” – nessa mania de irritar-me por qualquer coisa, de ficar “emburrado”, de fazer greve, de cortar a comunicação com pessoas e por aí afora. Muitas pessoas cultas e famosas são conhecidas por ter “pavio curto” e isso prejudica em muito suas vidas e carreiras.

Henry Drummond fala de “pecados do corpo e pecados do humor”. Pecados grosseiros, vícios, ganância, mundanismo não fazem tanto mal para a sociedade em geral do que “o tal do mau gênio”. Este, sim, é responsável por amargar a vida, dividir comunidades, destruir os relacionamentos mais sagrados, devastar lares, enfraquecer homens e mulheres, tirar o brilho da infância… Tudo pelo mero e gratuito poder ou desejo de produzir miséria.

Por exemplo, na parábola do filho pródigo (que, a meu ver, deveria ser nomeada como “A Parábola do Pai amoroso, misericordioso, bondoso, perdoador”; Lucas 15), o irmão mais velho tinha uma boa moral, era trabalhador, fiel, obediente, tinha muitos méritos etc. Porém, qual foi a sua atitude quando soube que o motivo da festa que seu pai havia preparado era para seu irmão mais novo que havia voltado? Ele se “emburrou”, ficou furioso, semelhante a um menino zangado e não quis participar. Calcule o efeito disso sobre o pai, sobre os empregados e sobre o seu próprio irmão. Seu coração transpareceu e irradiou inveja, raiva, orgulho, crueldade, justiça própria, irritação, obstinação, rabugice. Quantos “pródigos” são mantidos fora do Reino de Deus devido ao caráter nada amável daqueles que professam estar dentro? Será que não foi por isso que o Senhor disse: “Em verdade vos digo, que os publicanos e prostitutas entram adiante de vós no reino de Deus”? (Mt 21.31). Não há lugar no céu para esse tipo de humor. Por isso é necessário nascer de novo. Para entrar no Reino é preciso ter as mesmas atitudes do Rei dentro de si.

O problema não está no mau gênio em si, mas naquilo que ele revela, isto é, a falta do amor de Deus fluindo do coração. Somente a presença do Espírito de Cristo pode mudar esse mau gênio. A força de vontade não muda a pessoa; o tempo não muda a pessoa; Cristo muda a pessoa! É o sentimento e a mente de Cristo que mudam tudo isso. É urgente que nos livremos desse mal, pelo poder de Deus!

8) O AMOR NÃO SUSPEITA MAL

Isso fala de inocência e sinceridade. Inocência é a graça para com as pessoas desconfiadas. É o segredo para encorajar e abençoar muitas vidas. As pessoas que mais nos influenciaram foram aquelas que acreditaram em nós. Num ambiente de desconfiança as pessoas se retraem, mas num ambiente sem malícia e com sinceridade elas se expandem e encontram encorajamento e comunhão – e isso produz crescimento. O amor vê o lado bom da pessoa e a encoraja a ser o que Deus planejou para ela ser; restaura a autoestima e dá esperança ao outro de melhorar e avançar.

9) O AMOR REGOZIJA-SE COM A VERDADE

Ele busca a verdade com mente humilde, sem preconceitos, a qualquer custo – e isto fará com que trate suas “descobertas” com carinho. O amor recusa-se a tirar proveito das falhas alheias, a não ter prazer em expor as fraquezas dos outros. O amor “cobre multidão de pecados” (1 Pd 4.8).

A PRÁTICA DO AMOR

Ninguém nasce com o “dom” do amor. Amar é algo que aprendemos a fazer, são pequenas práticas diárias. Todos os dias temos mil oportunidades para praticar o amor. O mundo não é um parque de diversões, mas uma sala de aula. Estamos em constante aprendizado. Não há férias nessa questão e a lição única e constante é: como podemos amar melhor. A vida espiritual não é diferente da física. Um bom esportista está sempre se exercitando, portanto, um cristão também precisa exercitar todos os dias viver segundo o caráter de Cristo que recebeu.

Jesus foi carpinteiro até os 30 anos. A Bíblia diz que ele “aprendeu a obediência” e que “crescia em graça e sabedoria diante de Deus e dos homens”. Por isso, todos os dias devemos clamar: “Senhor, me dê oportunidades de crescer no amor hoje.” Lembre-se: uma vida sem amor não compensa ser vivida. Afinal, que sentido há numa vida assim? Um irmão disse: “VIDA – AMOR = ZERO”.

Não reclame das circunstâncias desagradáveis na família, no trabalho etc., nem das tentações pelas quais tem passado e vai passar, pois são nessas circunstâncias que aprendemos a ser pacientes, humildes, generosos, bondosos e a ter boas maneiras. Às vezes, alguém diz: “Ah, mas eu preciso que Deus me dê muita paciência!” E o que Ele faz? Manda tribulações, porque são justamente essas que irão produzir a paciência. Ninguém cresce em amor se viver cercado apenas de pessoas carinhosas, alegres, boazinhas. Vivemos diariamente em ambientes com pessoas rudes, intolerantes, iradas, mas que precisam descobrir o amor de Deus – e isso por meio de nós, mesmo com todas as nossas falhas.

AMOR X EGOÍSMO: APRENDIZADO PARA A VIDA TODA

A todos, mas em especial aos irmãos: O fim de todas as coisas está próximo. Portanto, sejam sensatos e disciplinados em suas orações. Acima de tudo, amem uns aos outros sinceramente, pois o amor cobre muitos pecados. Abram sua casa de bom grado para os que necessitam de um lugar para se hospedar. (1 Pe 4.7-9)

Viver em amor com os irmãos é a prova de que somos discípulos de Jesus. Isso é fundamental para que o mundo creia, conforme Jesus disse e orou (Jo 13.35; 17.21). É da vontade de Deus que estejamos intimamente ligados aos irmãos, exatamente para desenvolvermos a capacidade de amar. Ninguém aprende a amar sozinho, mas precisa estar rodeado de pessoas por perto – pessoas irritantes, imperfeitas, frustrantes.

Amor e relacionamentos caminham juntos e devem ser prioridade, acima de bens ou realizações. Não é certo trocar relacionamentos de família ou de irmãos por outras coisas. Muitas vezes o urgente toma o lugar do importante. Tome cuidado com isso, pois o verdadeiro, o principal objetivo da vida é aprender a amar a Deus e as pessoas.

Em seu livro “As 5 Linguagens do Amor”, Gary Chapman diz que essas linguagens são: palavras de afirmação; tempo de qualidade; presentes; atos de serviço; toque físico. Eu creio que a melhor expressão de amor é o tempo que dedicamos às pessoas. A forma de “gastar” nosso tempo com elas revela nossas prioridades. O tempo é o bem mais precioso que temos – e ele é limitado. Por isso, o melhor presente que podemos dar a alguém é o nosso tempo. Porém, precisa ser um tempo de qualidade, de coração. Dar tempo é sacrifício e sacrifício é a essência do amor. Podemos dar sem amar, mas não podemos amar sem dar (Jo 3.16). Amar é abrir mão, é ceder nossas preferências, confortos, objetivos, segurança, dinheiro, energia ou tempo em benefício de outras pessoas.

Nesse aspecto, entram as “telinhas da vida”. Às vezes, quando estamos conversando com alguém, temos o costume de ficar atendendo a ligações, trocando mensagens por celular ou fazendo outras coisas de somenos importância.

Pense por um instante: O que normalmente uma pessoa deseja na hora da sua morte? Que seus queridos estejam ao seu lado! Portanto, devemos orar a cada manhã para termos tempo de amar a Deus e as pessoas, pois é nisto que consiste a verdadeira vida. É exatamente para isso que vivemos cada dia que Deus nos concedeu. Sem isso a vida não tem sentido, não tem valor. Amar é algo para a vida inteira e deve começar hoje, agora, já… e em todo tempo.

Por isso, sempre que tivermos oportunidade, façamos o bem a todos, especialmente aos da família da fé. (Gl 6.10)

O AMOR É ETERNO

Tudo o que é feito em amor permanecerá para sempre. Amar abundantemente é viver abundantemente. Amor e vida eterna estão ligados. Quando o Rei Jesus vier, ele não irá julgar o que cremos, fizemos ou alcançamos, mas o quanto de amor liberamos à pessoas. Seremos julgados pelo que NÃO fizemos, pela omissão (Mt 25.31-46). Tiago disse que “a fé sem obras é morta” (Tg 2.26). Então não adianta eu dizer que “sou cheio de fé, cheio do Espírito”, mas não fazer nada por ninguém.

Fomos atraídos pelo amor de Deus justamente para amar as pessoas, fazer algo por elas. Reter o amor é negar o espírito de Cristo, é a prova cabal de que não o conhecemos ainda. Se Deus é amor, o que mais devemos nos empenhar em fazer é justamente conhecer e viver este amor. Quando amamos somos mais parecidos com ele, por isso, o amor é o fundamento de todos os mandamentos.

Porque vocês, irmãos, foram chamados para viver em liberdade. Não a usem, porém, para satisfazer sua natureza humana. Ao contrário, usem-na para servir uns aos outros em amor. Pois toda a lei pode ser resumida neste único mandamento: “Ame o seu próximo como a si mesmo”. Mas, se vocês estão sempre mordendo e devorando uns aos outros, tenham cuidado, pois correm o risco de se destruírem. (Gl 5.13-15)

Não sabemos quanto tempo viveremos. Um dia estaremos diante de Deus. Como explicaremos a Ele todos os momentos em que projetos e coisas foram mais importantes do que pessoas? Com quem eu preciso começar a passar mais tempo? O que eu preciso eliminar da minha agenda para que isso seja possível? Que sacrifícios preciso fazer? Pensando honestamente, será que os relacionamentos são a minha prioridade? A melhor utilidade que posso dar à vida é amar! A melhor expressão do amor é o tempo! O melhor momento para amar é agora!

NÓS AMAMOS PORQUE ELE NOS AMOU PRIMEIRO

“Nós amamos, porque ele nos amou primeiro.” (1 Jo 4.19). Esta é a nossa esperança! Amar é um mandamento, mas só conseguimos amar verdadeiramente porque o próprio Deus nos deu, derramou o Seu amor sobre nós, dentro de nós.

Tendo sido, pois, justificados pela fé, temos paz com Deus, por nosso Senhor Jesus Cristo, por meio de quem obtivemos acesso pela fé a esta graça na qual agora estamos firmes; e nos gloriamos na esperança da glória de Deus. Não só isso, mas também nos gloriamos nas tribulações, porque sabemos que a tribulação produz perseverança; a perseverança, um caráter aprovado; e o caráter aprovado, esperança. E a esperança não nos decepciona, porque Deus derramou seu amor em nossos corações, por meio do Espírito Santo que ele nos concedeu. (Rm 5.1-5)

Nós amamos PORQUE ELE NOS AMOU PRIMEIRO! Só por isso! Amamos a Deus e as pessoas unicamente porque Ele nos amou primeiro. Porém, a mudança para essa prática é gradativa. Quanto mais me exponho, medito, reflito, olho para o amor de Cristo, mais vou amar. É dessa forma que somos transformados diariamente à semelhança de Cristo.

Portanto, todos nós, dos quais o véu foi removido, podemos ver e refletir a glória do Senhor, e o Senhor, que é o Espírito, nos transforma gradativamente à sua imagem gloriosa, deixando-nos cada vez mais parecidos com ele. (2 Co 3.18)

Jesus é o amor em pessoa e ele quer amar por meio de nós. Olhando firmemente para Jesus: seu caráter perfeito, sua vida perfeita, seu sacrifício perfeito, sua entrega por nós perfeita e completa, sua morte na cruz do calvário! Não há como não amá-lo e, ao amá-lo, seremos impelidos a nos tornarmos como ele. Assim como um ímã atrai uma peça de ferro colocada perto dele, se estou próximo a Jesus vou atrair pessoas para mim, serei atraído para amá-las.

O amor de Deus derrete o coração não amoroso das pessoas e gera nelas uma nova criatura que é paciente, humilde, gentil, não egoísta. O caminho é este: amarmos a todos – amigos e inimigos – porque ele nos amou primeiro. Há centenas de textos na Palavra de Deus sobre esse assunto, mas realço os seguintes:

E que o Senhor faça crescer e transbordar o amor que vocês têm uns pelos outros e por todos, da mesma forma que nosso amor transborda por vocês. (1 Ts 3.12)

Não precisamos lhes escrever sobre a importância do amor fraternal, pois o próprio Deus os ensinou a amarem uns aos outros. 10De fato, vocês já demonstram amor por todos os irmãos em toda a Macedônia. Ainda assim, irmãos, pedimos que os amem ainda mais. (1 Ts 4.9-10)

Uma vez que vocês foram purificados de seus pecados quando obedeceram à verdade, tenham como alvo agora o amor fraternal sem fingimento. Amem uns aos outros sinceramente, de todo o coração. (1 Pe 1.22)

Esta é a mensagem que vocês ouviram desde o princípio: que amemos uns aos outros. (1 Jo 3.11)

E este é seu mandamento: que creiamos no nome de seu Filho, Jesus Cristo, e amemos uns aos outros, conforme ele nos ordenou. (1 Jo 3.23)

Charles Spurgeon, um famoso pregador inglês que viveu no século XIX, deixou-nos um texto muito inspirador a esse respeito que transcrevo abaixo:[1]

No planeta não existe luz, a não ser aquela que vem do sol; e no coração não existe amor verdadeiro por Jesus, a não ser aquele que vem do próprio Senhor Jesus. Todo nosso amor por Deus precisa brotar da fonte transbordante do Seu infinitivo amor. Esta deve sempre ser uma verdade clara e sublime: que nós O amamos por nenhuma outra razão além da que Ele nos amou primeiro. Nosso amor por Ele é a “consequência justa” de Seu amor por nós. Quando alguém estuda os feitos de Deus pode sentir uma fria admiração, no entanto, o calor do amor só pode arder no coração pelo Espírito de Deus. Que grande maravilha que, dessa forma, sempre seremos absolutamente constrangidos a amar Jesus! Que maravilha que, depois de termos nos rebelado contra Ele, ao revelar esse amor surpreendente, Ele procurasse nos receber de volta. Não! Jamais teríamos um grão de amor por Deus a menos que isso tivesse sido implantado em nós pela delicada semente de Seu amor. O amor, então, tem como pai o amor de Deus derramado no coração: mas, depois de nascer divinamente, ele precisa ser divinamente nutrido. O amor é exótico; não é uma planta que florescerá naturalmente em solo humano, ele precisa ser regado de cima. O amor a Jesus é uma flor de natureza delicada, e se ele não recebesse nenhuma nutrição, exceto aquela que pode ser extraída da rocha de nossos corações, ele rapidamente murcharia. Assim como o amor vem do céu, assim também precisa ser alimentado com pão celestial. Ele não pode subsistir no deserto a menos que seja alimentado pelo maná que vem de cima. Amor precisa ser alimentado com amor. O genuíno espírito e a genuína vida de nosso amor por Deus é Seu amor por nós.

Te amo, Senhor, não com o meu amor, pois nada tenho para dar. Te amo, Senhor; mas todo o amor vem de Ti, pois eu vivo pelo Teu amor. Nada sou, e me alegro em ser esvaziado, perdido, e consumido em Ti.

Francisco Vanderlinde

Transcrição e Edição: Luiz Roberto Cascaldi

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